Basta ver a quantidade de abortos que se verifica todos os dias, as centenas de assassinatos selváticos que se cometem diariamente nas guerras e conflitos regionais e a ligeireza com que se mata um vizinho, nomeadamente idoso, por motivos meramente fúteis.
Há ainda e também muitos legisladores que não sentem a menor relutância em propor e defender a tão falada despenalização (ou legalização) da “morte assistida” ou da “morte medicamente assistida” (expressões eufemísticas para designar a eutanásia) para doentes incuráveis, numa fase terminal, em estado de sofrimentos insuportáveis. Assim vai a coerência paradoxal de alguns responsáveis pelos desígnios das nossas sociedades. Para eles parece que a vida humana não tem o mesmo valor durante toda a existência do homem neste vale de alegrias e de tristezas.
O grande propósito desses anteprojetos é que “os doentes terminais incuráveis possam escolher onde e como querem morrer”, antecipando arbitrariamente o termo da sua vida. Portanto, se essa for a sua vontade, esses doentes podem permitir que lhes provoquem a morte em casa, abreviando, assim, voluntariamente a sua vida. Com este anteprojeto, segundo os seus proponentes, “trata-se de reconhecer um direito individual”. Segundo essa futura lei, o médico (se a isso se dispuser) terá que tomar a decisão em 24 horas.
Chegou-se a um tempo em que a vida humana perdeu o seu verdadeiro valor, sendo ultrapassada, em certos casos, por outros referenciais de ordem inferior. Claro que, depois, com o andar dos tempos, corre-se o risco de, alteradas as perspetivas e as condições, novas adendas à lei surgirão e a “dita morte assistida” será estendida a muitas outras situações. Deste modo, se irá, então, banalizando a sua prática. A eutanásia pode também, em alguns casos, vir a ser encarada como um certo alívio de um “fardo” para certos cuidadores, perante as responsabilidades que, pelo contrário, os devem orientar continuamente, em relação a esses doentes! É mais uma situação que vem engrossar a cultura da desorientação, da indiferença e de um certo desprezo pela vida humana.
Deve-se apostar, sim, nos cuidados paliativos que são muito importantes e muito eficazes.
Todos nós sabemos que as sociedades devem pugnar pela vida e pelas melhores condições da existência humana, com medidas que promovam a implementação da justiça e da igualdade de oportunidades, pelos salários dignos, pelo pleno emprego, pelo respeito pelos direitos do homem, nomeadamente pelo direito à vida. A coisa mais relevante para aprender na vida é como se deve viver. Não há nada que os homens guardem com tanta preocupação como a própria vida e, por vezes, tão pouca atenção lhe dão.
As grandes marcas de muitos responsáveis modernos caracterizam-se, infelizmente, pela leviandade das suas medidas, pela incoerência, pelo improviso e pela desumanização das suas opções. As suas decisões são, tantas vezes, uma vertedura de banalidades que em nada contribuem para o bem-estar do povo. O respeito pela dignidade e pela vida humanas ainda anda muito arredado das sociedades modernas.
Autor: Artur Gonçalves Fernandes