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A eutanásia e o orgulho humano

Os defensores da eutanásia, que não tem qualquer sentido cristão, são pessoas que consideram o homem como um ser totalmente livre e que não tem por que se sujeitar a qualquer outra entidade superior para decretar a sua morte. Supõem que o ser humano é absolutamente soberano em relação à sua existência, ainda que ela, na sua origem, não tenha sido provocada pela sua vontade. Isto é, ninguém existe porque assim o determinou. Outros o fizeram por si, habitualmente os seus pais. Um cristão não defende esta perspectiva, pois tem consciência de que o nascimento de cada ser humano tem como princípio a vontade divina. Ninguém nasce por acaso, Mesmo que as circunstâncias que fizeram germinar um novo homem no seio materno possam não ter sido as mais pacíficas e voluntárias, possam ser, inclusivamente, violentas e criminosas, a verdade é que o nascituro tem, como qualquer outro seu congénere, fruto do amor e generosidade dum casal bem constituído e afável, o mesmo destino: Deus trouxe-o à existência para que um dia goze da bem-aventurança eterna, ou seja, ascenda ao Céu por toda a eternidade. Com o que se acaba de referir, de forma alguma se defende que as razões negativas pelas quais um ser humano pode nascer sejam excelentes ou recomendáveis. De maneira alguma. O que não podemos esquecer, porém, é que todo o homem é filho de Deus, e que a sua vinda ao mundo foi, independentemente dos modos que a determinaram, aproveitada pelo seu criador para lhe dar a possibilidade de atingir a maior felicidade. E este Deus que nos criou não nos desampara durante a nossa vida terrena. Acompanha-nos sempre, procurando aconselhar-nos da melhor maneira para que nós ajamos fazendo o bem, com consciência e vontade de o fazer: Não nos trata como títeres ou fantoches. Se a nossa natureza criatural reflecte a sua imagem e semelhança, quer dizer que somos seres livres, podendo ou não seguir as suas indicações. Mais: podendo recusar totalmente o que Ele nos sugere. A sua omnisciência, isto é, o seu conhecimento perfeito e absoluto de tudo, tem em conta com total objectividade as nossas dificuldades e as nossas fraquezas. Por isso, sabe que precisa de usar para connosco uma bitola de perdão que ultrapassa tudo aquilo que um ser humano é capaz de imaginar. Lembremos S. Pedro, que, com algum receio de exagerar, pergunta a Cristo se deve perdoar a quem o ofenda até sete vezes. A resposta do Mestre supera tudo o que o apóstolo supunha, porque Jesus fala de um número magnânimo: até setenta vezes sete. Isto é, Deus sempre perdoa, desde que haja, da nossa parte, arrependimento. Este entendimento da benignidade divina, que reflecte o amor misericordioso de Quem nos criou e de Quem deseja, com mais ardor do que ninguém, a nossa felicidade verdadeira, leva o cristão a pensar e a ter a certeza de que o momento da morte, se o confia às mãos de Deus, será o melhor para si. As opções que Ele toma são sempre as mais adequadas para que encontremos todo o bem e satisfação que nos prometeu e pelos quais sempre Se empenha com o maior afinco, desde que nos cria até nos chamar para a vida eterna . A eutanásia surge assim como um gesto de absoluto desprezo pelo amor de Deus e como a afirmação orgulhosa de uma independência que pode decidir tudo, supondo que cada homem é senhor único e a razão principal da sua existência. “Eu é que sei se devo ou não continuar a viver”, diz o defensor da eutanásia. “Deus, que se entretenha lá pelo Céu. Não tem nada a ver com isto”.
Autor: Pe. Rui Rosas da Silva
DM

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7 março 2020