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A Etapa Continental

O sínodo entra na segunda etapa, a denominada Etapa Continental. No processo sinodal, que iniciou em 2021 e decorrerá até 2024, realizar-se-ão sete Conferências em diversos lugares do globo. No que concerne à Europa, o encontro está a acontecer em Praga, com início no dia 5 e encerramento no dia 12 deste mês. De Portugal, participam 14 pessoas, quatro em modo presencial e 10 através dos meios digitais. O trabalho destas assembleias é orientado por um documento, preparado por especialistas com base numa reflexão sobre as conclusões elaboradas pela Secretaria Geral do Sínodo e tendo presentes os relatórios das sínteses das Conferências Episcopais do mundo inteiro. Segundo o Secretariado do Sínodo, a finalidade desta Etapa Continental consiste em “aprofundar o nosso discernimento sobre o que emergiu da etapa anterior da escuta local e nacional, com o objetivo de formular, com mais precisão, as questões abertas e melhor fundamentar e aprofundar as intuições provenientes das Igrejas locais, agora numa perspetiva continental”. Como toda a caminhada sinodal, estas não serão reuniões episcopais, mas eclesiais, ou seja, os participantes terão de expressar a variedade do Povo de Deus. A peculiaridade destas assembleias consiste em sublinhar o diálogo entre as diferentes Igrejas, alargando o horizonte de análise e discernimento sinodal, bem como "incrementar a criação ou fortalecimento de vínculos entre as Igrejas vizinhas". Com este modo de proceder, o sínodo continua numa lógica da escuta, mas também de um conhecimento mais alargado das situações, facultado pelo confronto com as caminhadas efetuadas por cada Conferência Episcopal. Trata-se, efetivamente, de uma caminhada com a participação de um número reduzido de membros, mas imbuído de um espírito de comunhão efetiva entre todos. Sabemos que o trabalho a efetuar nestas assembleias irá desembocar nas Assembleias Plenárias, que terão lugar em Roma, a primeira de 4 a 9 de outubro e a segunda em outubro do próximo ano. Há quem pense que o sínodo procura a imagem de uma Igreja diferente. Movidos por esta ideia, apresentam demasiadas propostas e pretendem que elas se concretizem. Acontece, porém, que o grande objetivo do itinerário consiste em provocar ou gerar uma mentalidade diferente nas pessoas e nas comunidades. A renovação da Igreja acontecerá, só e apenas, como consequência de uma alteração de convicções, através de um pensar diferente. A novidade que o sínodo trará à Igreja não está nos documentos que poderá produzir. Importa, antes, trabalhar uma mudança de mentalidade, passar do individual ao comunitário ou sinodal. Por isso, é imprescindível que se vá concretizando a dimensão sinodal e que não se fique à espera do que poderá ser dito no futuro. O Sínodo está a acontecer em cada um e em cada comunidade. Para ajudar a esta mudança de mentalidade, gostaria de sublinhar algumas interpelações a partir do texto bíblico escolhido como suporte da partilha e da reflexão que os representantes das conferências fizeram, e estão a fazer, nos diferentes lugares onde esta Etapa Continental está a acontecer. Para chegar a uma Igreja sinodal missionária, sempre numa atitude de escuta do que o Espírito nos quer comunicar, é sugerida uma passagem de Isaías, verdadeiramente eloquente e desafiadora: “Alarga o espaço da tua tenda, estende sem medo as lonas que te abrigam, e estica as tuas cordas, fixa bem as tuas estacas” (Is.42,2). Na verdade, cada verbo desta citação bíblica merece muita meditação e sugere uma profunda alteração de comportamentos. É inquestionável que o vírus da habituação dificulta bastante o ritmo da caminhada e continua a ser um dos principais problemas da Igreja. Por isso, este texto deve, desde já, desafiar as vidas pessoais, bem como as estruturas eclesiais. Convida a imaginar a Igreja como uma tenda que acolhe e que pode ser deslocada para terrenos novos e diferentes - acolher e deslocar. A Igreja e os cristãos devem caminhar no sentido de se transformarem numa “morada ampla, mas não homogénea, capaz de dar abrigo a todos, mas aberta, que deixa entrar e sair” (Jo.10,9), e em movimento para "o abraço com o Pai e com todos os membros da Humanidade”. Alargar a tenda não permite comunidades hermeticamente fechadas, apenas disponíveis para acolherem os seus membros, mostrando-se alheias a quem está fora delas. Teremos de acolher, não temendo a diversidade, mas mostrando disponibilidade para aceitar a originalidade, única e irredutível, de cada um. Não aceitamos proselitismos; contudo, não podemos deixar de testemunhar o amor universal de Deus. O espaço da tenda é acolhedor e, simultaneamente, disponível para se situar em espaços que podem estar a ser alheios à Igreja. Alargar a tenda exige muita coragem e uma significativa mudança de atitudes. Fazer com que esta se desloque para situações humanas até agora desconhecidas pode e deve ser ainda mais desafiante. Não temos estruturas fixas e rígidas, não nos afastamos da fidelidade, mas reconhecemos a importância da novidade no ser e no agir. Será que estamos disponíveis para alargar a tenda da nossa vida? Estaremos a dar o nosso contributo para que a comunidade a que pertencemos se alargue, acolhendo sem distinção? Continuamos apegados a esquemas que impedem a mudança ou acreditamos na urgência de uma deslocação para espaços novos, talvez desconhecidos?
Autor: D. Jorge Ortiga
DM

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11 fevereiro 2023