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A estranha leveza de ser

O título foi sugerido pela “A insustentável leveza do ser” de Milan Kundera. Só isto e em nada se assemelha ou aproxima a abordagem que vamos fazer. Estou-me a referir ao comportamento dos sindicatos, como ser, na atual fase de recuperação económica do país. Por que razão é estranha e leve? Então não se estranha que os sindicatos decretem greve nos aeroportos portugueses, agora que o turismo começa a chegar e a economia começa a dar sinais de querer sair da pesada letargia a que foi sujeita pelos circunstancialismos da pandemia? Não acham estranho que venham pedir aumentos salariais quando as empresas estiveram fechadas, não produziram nada, não tem dinheiro para os gastos e não tem arranjado substituições de produção? Não acham estranho que numa época onde não há produção se peçam aumentos salariais? Mas que atitude sindical é esta? Estes senhores estão a fomentar o fecho de mais empresas. Não compreendem que a requisição civil para garantia de serviços mínimos, faz levantar nos empresários a ideia de como substituir os empregados pela robotização, pela inteligência artificial, pela computação? Não olham com receio que aquilo que se está a passar na montagem de automóveis por todo o mundo empresarial deste setor, se venha a estender a toda a indústria a nível global? O robô não tem subsídio de natal, nem décimo terceiro mês, não reivindica aumentos salariais, não tem reforma, trabalha sem descanso e produz mais e mais certeiro porque a inteligência artificial vai ser a sua alma. O que os sindicatos, com a sua leveza de atuação estão a fazer, é levar os empresários a socorrer-se da tecnologia dispensando a mão-de-obra. Que se reivindique aumentos salariais de lucros, não é estranho, quando as empresas, as que ainda resistem, estão a vender em deflação, isto é, abaixo do custo de fabrico? Isto é a caminhada mais rápida que existe para a falência ou insolvência. Pensem: onde estão os portageiros das autoestradas? Onde param os guardas alfandegários? Onde estão os bilheteiros dos guichês? Todos foram substituídos por máquinas. O mesmo se vai dar com as empresas. E então acham que perante este cenário, que já não demora muito a ser real, ainda reivindiquem melhorias salariais! Querem beber o sangue de um moribundo? Não existe riqueza distributiva. Então porque teimam em ir buscar o que não há? Esta maneira de ser e esta leveza de estar sindical, é um suicídio a curto prazo e uma leviandade no imediato porque não defende os trabalhadores. O que deviam fazer é equacionar o que fazer aos trabalhadores que vão perder o emprego com o emprego da tecnologia. Isso, sim, era olhar para a frente. Deixem o retrovisor que só mostra quem vem atrás. Olhem para o que está a acontecer com os trabalhadores bancários: quantos balcões foram fechados? Quantos bancários negociaram a sua saída? E quantos tremem pela sua tarefa uma vez que a maior parte das pessoas já não precisa dos seus serviços para levantar dinheiro, consultar saldos, transferir numerário, pagar despesas; era trabalho dos bancários e agora são da tecnologia. Tudo se está tornar efémero: as nuvens alaranjadas do poente iluminam um dia que morreu mas não nos garantem que o outro dia seja de sol.


Autor: Paulo Fafe
DM

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31 maio 2021