Hoje, os italianos vão às urnas, eleger os seus representantes locais e logo veremos em que estado se encontra o exercício de Cidadania. 26 de Setembro: eleições na Alemanha. A Abstenção aumentou 2,5 por cento. Resultado: em vez dos 75, 72,5 por cento das alemãs e dos alemães foram às urnas. Razoável este número? – Depende do ponto de vista, mas aquele povo não brinca em serviço e faz questão de mostrar que, apesar de não gostar dos excessos, diz presente no momento de escolher os seus eleitos, numa espécie de conciliação a prazo entre a política e a cidadania, sujeita a análise severa e informada. E por cá? – continuamos progressivamente a virar as costas aos partidos, às suas mensagens, e a receber brindes. É talvez a fórmula perfeita encontrada pelas candidatas e pelos candidatos para entreter os eleitores que se “aborrecem” com programas, ideias, projetos. Isso não interessa: é coisa dos partidos: venha a esferográfica, a bola e tudo a que tenho direito. Votar? Não tenho tempo; são todos iguais, prometem, mas não cumprem. Quero lá saber das eleições. Nem sei do que falam! – Tantas interrogações e tanta Volúpia, só podem degenerar em alienação por excesso de “consumo”. Progressivamente, assimilamos de forma perigosa que o envolvimento na coisa pública, na coisa política, está muito bem entregue aqueles de quem dizemos mal, de quem desconfiamos e que muitas das vezes desprezamos. Porque será assim? De certeza que o efeito dos brindes é pernicioso, mas não o suficiente, para fazer esquecer o maior déficit da nossa Democracia: o exercício da Cidadania na sua plenitude. E se já perdemos uma geração para a abstenção sistemática e sistémica, devemos continuar a considerar todas as obrigações sociais, menos aquela que determina o nosso futuro, esquecendo que o que não foi feito, ao longo de décadas, pode agora, por magia, concretizar-se pelo voluntarismo? Não e é por todos os nãos possíveis que devemos continuar a trabalhar num país que se encanta intrepidamente com a má-língua e volta que não volta, prefere viver no desencanto. O esforço de milhares de cidadãs e cidadãos em Braga e no país, não merece que olhemos para os 47 por cento da nossa abstenção (média) com o fatalismo disruptivo que nos contamina, parecendo, mas não sendo, irreversível. A esperança que tantas vezes alimentou a alma das portuguesas e dos portugueses, não pode ser alienado em nome das vicissitudes da Democracia, tem de ser uma prerrogativa da frontalidade com que todos, sem exceção, devem encarar as suas obrigações. Precisamos, obrigatoriamente, de um novo discurso, de uma nova organização política, de uma abertura, sem medo, nem tibieza, que alimente saudavelmente os alicerces da Cidadania. Não conseguimos atingir os objetivos nestas eleições- inverter a curva da abstenção, nem em Braga nem no país - e essa é uma lição para todas e para todos. Uma lição que não precisa de mais reflexão, mas de coragem para mudar de rumo. Quem abandonou as pessoas no limbo da fantasia democrática, tem a obrigação de reverter o modo e o tempo do funcionamento da Política e de nos apresentar um caderno de encargos para os próximos dois anos. O que faz falta fazer é quase tudo e já lá vão 47 anos de Democracia em que perdemos tempo a tratar as portuguesas e os portugueses como se fossem incapazes de assumir um tempo novo, uma nova Ágora. O povo é sábio e lá saberá porque mostra cartão vermelho. Quero crer, que quem queira assumir uma nova Missão e Visão da Política, terá o reconhecimento desejável e necessário, invertendo o papel nefasto das redes sociais, plataforma que se encarregou de tomar conta do tempo útil, onde tudo o que temos para dizer, é sufragado, mas, mesmo assim, útil para as nossas motivações emocionais, numa espécie de pegada humana do efémero. A realidade abstencionista não impedirá, antes incentiva, a arregaçar as mangas e a trabalhar mais e melhor para que a utilidade do discurso pareça o que é e a prática seja o que a política dita e a Democracia exige: “Nós os cidadãos somos donos do poder”. Saibamos, pois, honrar esta responsabilidade, exigindo mais e, sobretudo, assumindo o papel que deve unir, não perdendo de vista o maior investimento que a Democracia nos pede para os próximos dois anos: A Educação para a Cidadania. Por outras palavras, o povo soberano que falou, calando-se no dia 26, quer mudança de rumo, quer mais Democracia, menos irresponsabilidade, mais respostas, menos promessas, mais diálogo, menos umbigo, mais oportunidades, menos necessidades efémeras, mais lealdade política, menos aristocracia partidária, mais e melhor Ágora, menos embolia discursiva. Se fizermos o que tem de ser feito, conquistaremos a generosidade e a confiança dos cidadãos.
Destaque
Precisamos, obrigatoriamente, de um novo discurso, de uma nova organização política, de uma abertura, sem medo, nem tibieza, que alimente saudavelmente os alicerces da Cidadania.
Autor: Paulo Sousa