Uma guerra tanto pode começar por uma noite mal dormida, como por uma decisão mal tomada”.
Ao escolher esta frase, da qual desconheço o autor, achei que seria adequada ao momento da situação instalada no Afeganistão, não sei se por noites mal dormidas de quem tem governado os Estados Unidos da América (EUA), ou se por qualquer outro motivo. Mas que foi uma decisão mal tomada do ‘endeusado’ presidente, Joe Biden (JB), ao mandar retirar as tropas americanas daquele território sem acautelar, em primeiro lugar, as vidas dos cidadãos que lhes deram apoio, lá isso foi. Mas não foi o único, com ele alinharam todos os seus aliados, incluindo a ‘NATO’, que se ‘puseram na alheta’ deixando aquele povo entregue às mãos dos Talibãs.
Só quem andou muito distraído é que não reparou que as tropas fiéis à América se viram às aranhas, logo de início, para combater aquele radicalismo islâmico nas montanhas afegãs que qualquer Talibã tão bem conhece. E, depois, porque os EUA já haviam experimentado uma longa guerra no Vietnam de onde se ‘piraram’ sem honra nem glória e na qual perderam muitos milhares dos seus homens, tendo despendido milhares de milhões de dólares em vão. Mas não só. Com a ideia de tentar impor a democracia aos países árabes, com culturas e tradições diferentes das do ocidente, deixou-os a ferro e fogo e sujeitos à ‘debandada’ dos seus nativos para outras paragens, pelo que vão exercendo enorme pressão sobre a Europa.
Foi com George W. Bush que o mundo viu os resultados de uma hipotética noite mal dormida – devido ao derrube das Torres Gémeas, em 11 de Setembro de 2001 – ao precipitar as tropas para o Afeganistão em perseguição da Al-Qaeda, de Bin Laden, autor da proeza. Vindo a seguir Barack Obama que as manteve lá, embora com a intenção de as retirar. Terminados os seus mandatos, surgiu Donald Trump a encetar negociações com os talibãs, vá-se lá saber em que termos, mantendo ideia da retirada. Finalmente o recém-eleito, JB, decide mandar para casa os soldados e seus comandantes. Só que quando viu a asneira que fez, veio emendar a mão mandando-os de volta ao terreno afegão a fim de tentarem resgatar as almas colaborantes.
Não há dúvida de que qualquer que seja o país invadido pelas tropas dos EUA, e seus aliados, tem dado em fiasco. Veja-se o caso do Iraque em que Bush que – depois e ter visto eclipsarem-se as armas de destruição maciça – ‘limpou o sebo’ ao presidente iraquiano, Saddam Hussein, deixando aquele território num estado deplorável, sem paz nem democracia. Já na Líbia fizeram com que Khadafi ‘batesse a caçoleta’, ficando o país à deriva e é o filho dele que anda, agora, a tentar assumir o lugar do pai para ver se a coisa endireita. Também na Síria aconteceu o mesmo, ou pior ainda. Pois, ali, tudo ficou destruído e famílias inteiras, sobretudo as mais jovens, ‘cavaram’ para a Europa, ficando sem mão de obra para a sua reconstrução.
Em boa verdade, onde os EUA têm posto os pés erros crassos se sucedem. Foi assim em toda a chamada ‘primavera árabe’ cujos países intervencionados não só não ficaram melhor, como acabaram por ficar bem pior do que estavam. São humilhações, umas atrás das outras, e uma cobardia de todo o tamanho sempre que resolvem invadir as nações e, de seguida, virar-lhes as costas. É que se as negociações com os Talibãs tivessem sido credíveis (?), o presidente afegão, Ashsaraf Ghani, não se teria ‘posto a milhas’. E, depois, ninguém sabe o que andaram a fazer por lá aquelas tropas todas, dentro de Cabul, se nada prepararam nem acautelaram para saírem.
Depois de vinte anos a “dormir na forma”, esta foi a ‘rendição consumada’ de uma ‘guerra’ começada pelos EUA e seus aliados, da qual todos ‘deram à sola’ deixando o Afeganistão à mercê dos radicais islâmicos, responsáveis por 85% de tráfico mundial de ópio. E a saga já começou com os ‘Jihadistas’, do ‘Estado Islâmico – ISIS-K’ –, a destilarem ódio, morte e o terror habitual. A Europa que se cuide.
Autor: Narciso Mendes
A "dormir na forma"
DM
6 setembro 2021