O Serviço Nacional de Saúde está doente. Muito doente. Não será ainda uma doença terminal, mas é já muito grave. E, se não lhe acodem, em breve será mesmo terminal e… terminará.
O primeiro passo do socorro deverá ser uma conjugação de esforços: juntar rapidamente, conjugar harmonicamente e potenciar mutuamente os sectores público, privado e social.
Não sei se é condição suficiente. Provavelmente não e outros passos terão depois que ser dados. Mas é condição necessária, «sine qua non», isto é, sem a qual não vale a pena tentar mais nada.
Mas, para se conseguir negociar uma conjugação de esforços deste tipo, algumas capacidades negociais são, por sua vez, imprescindíveis. A saber: 1 – independência de espírito; 2 – pragmatismo em vez de ideologia; 3 – humildade em vez de arrogância; 4 – douta ignorância em vez de omnisciência; 5 – diplomacia em vez de autocracia; 6 – maleabilidade em vez de rigidez; 7 – finalmente, e acima de tudo, boa vontade.
Nada disto se tem visto, talvez porque nada disto haja. Talvez porque falte, desde o princípio, a sétima dessas capacidades – a boa vontade, a vontade de obter a enunciada conjugação de esforços. Talvez porque haja, sim, a vontade contrária, a má vontade de nos encurralar a todos num serviço público a transbordar de utentes, onde não cabemos e onde somos atendidos (quando somos) por médicos esfalfados e enfermeiros exaustos.
Se é essa a vontade, é preciso assumi-la e deixar o serviço público rebentar de exaustão. Se a vontade é outra, então é preciso negociar, urgentemente negociar a conjugação de esforços que ainda pode iniciar o caminho da salvação.
Mas negociar não é impor – é, sim, o seu contrário. Negociar pressupõe as sete capacidades que atrás enumerei. Negociar é tudo quanto é oposto a uma ministra-negociadora de nariz empinado, dedo apontado, discurso crispado.
Um discurso onde se diz, com todo o despudor, que «o Serviço Nacional de Saúde não deixa ninguém à porta». Pois não, senhora ministra! Não deixa à porta. Deixa nos corredores, nos átrios, nas correntes de ar, nas macas, quando não em poltronas, durante horas, dias ou semanas. Ou então em casa, à espera de uma cirurgia que, quando chega já não é necessária porque o doente já morreu. É aí que o Serviço Nacional de Saúde, por não querer ajuda, deixa quem o procura. De facto , não é à porta.
Um discurso onde se diz que, se não houver colaboração do sector privado, «não é o fim do mundo». Pois não, senhora ministra! Mas será o fim da vida para muitos doentes. E será também o fim do Serviço que rebentará pelas costuras, «inchado» com nós todos encurralados lá dentro, sem possibilidade de escolha, de derivação ou de opção. Todos fundidos num molde imposto à boa maneira estalinista.
Nota: por decisão do autor, este texto não obedece ao impropriamente chamado acordo ortográfico.
Autor: M. Moura Pacheco
A doença da saúde

DM
9 março 2019