Acresce ainda que o egoísmo, o orgulho e a intolerância medraram como o grão da mostarda ou os tentáculos do polvo no seu habitat, se ninguém os incomodar. As pessoas não se suportam mutuamente e entram em conflito por motivos fúteis e ridículos. O marido incrimina a esposa, se ela não lhe obedece; a esposa larga o marido se ele não a compreende até nas suas pequenas extravagâncias; há uma enorme confusão entre amor e paixão.
Os filhos não respeitam os pais, se eles não lhes satisfizerem todos os seus caprichos. Os governantes só veem os “votos” nos momentos eleitorais. Alardeiam justiça, igualdade de oportunidades e seriedade na governação, mas espalham a exploração dos mais frágeis; difundem promessas de melhorias, mas semeiam desilusões; prometem aumentos justos, mas dão apenas uns míseros euros. Quando surgem as grandes calamidades (por ex. os incêndios), comovem-se (até ao eflúvio lacrimante) nos primeiros momentos e prometem ajudas céleres, mas, depois, tudo fica como dantes.
Apelam aos consensos, mas, no primeiro debate ou comício seguinte, lá vêm os ataques partidários ferozes e os aproveitamentos políticos, mesmo das próprias calamidades. Lutam por uma vida de glória sem cruz, mas acabam com uma cruz sem glória.
A corrupção continua a imperar nas sociedades. E não há emenda. Todos os dias são noticiados casos de branqueamentos e de desvios de capitais que se vão arrastando pelos tribunais ou ficam mesmo no esquecimento ou são simplesmente arquivados. Até os pobres bombeiros, exaustos na tarefa de dominar os fogos, sofrem as consequências desta podridão que envenena a nossa sociedade. Os soldados da paz recebem, muitas vezes, refeições inapropriadas e miseráveis.
Que falta de escrúpulos e de consciência! Há pessoas para as quais a honestidade, a sinceridade e a retidão de carácter não entram no seu léxico. Há pessoas que por dinheiro ou pelo assalto ao poder (ou para nele permanecerem), vendem a alma ao diabo. Quem tem a responsabilidade da gestão das empresas, das instituições, das autarquias e da governação dos países não pode ter aceções de pessoas, atitudes de compadrice, nem muito menos, uma aplicação inadequada da justiça social que vai ferir a dignidade humana. São sempre os mesmos a pagar a crise, ou seja, aqueles que nada ou pouco contribuíram para ela.
Será que os responsáveis não veem? Ou não querem ver? O ser humano está a paganizar-se cada vez mais; o homem está a esquecer-se da vivência dos princípios cívicos, éticos e morais. Onde mora a tão apregoada solidariedade ou equidade sociais? Volto a recordar as oportunas palavras de Omar Bradley: “Descobrimos o mistério do átomo e desprezamos o Sermão da Montanha. O mundo atingiu brilho sem sabedoria, poder sem consciência. Temos um mundo de gigantes nucleares e criancinhas sob o aspecto ético. Sabemos mais de guerra que de paz, melhor como matar que como viver”. O mundo está cheio de corruptos e de ambiciosos desonestos.
Autor: Artur Gonçalves Fernandes