twitter

A democracia está doente

1. A nossa democracia está doente. Basta ver a percentagem de abstenções nas eleições de domingo: 45,5%. Esta falta de comparência, que pode não significar desinteresse, deve ser motivo de sério exame de consciência para os responsáveis.

Não há sã democracia sem participação das pessoas. Continua válida a definição de Abraham Lincoln (1809-1865): governo do povo, pelo povo, para o povo. Se o povo se desinteressa de questões tão importantes como é a eleição dos que o vão representar e em seu nome tomar ou apoiar decisões….

2. É hoje um lugar comum falar-se no descrédito da política. E para isso contribui a criticável atuação de alguns (não todos, saliente-se e faça-se justiça) dos senhores que se lhe dedicam.

Fala-se muito em transparência, mas há situações de tenebrosa opacidade.

Há processos judiciais que se arrastam indefinidamente.

Há a preocupação de colocar a fidelidade ideológica acima do que é o verdadeiro interesse nacional, o que dá origem a uma guerra a tudo o que é iniciativa privada, quando os factos demonstram não ser o Estado capaz de dar solução a todos os problemas dos portugueses.

3. Uma sã democracia exige que se coloque o bem comum acima dos interesses particulares e dos grupos de pressão.

Que se proceda a uma correta gestão dos dinheiros públicos, se responsabilizem os maus gestores, se resista à tentação de gastos desnecessários, se não deixe de investir no que é verdadeiramente prioritário: a saúde, a habitação, a educação.

Que os grandes devedores à banca cumpram as suas obrigações.

Que se dê luta sem tréguas à corrupção, sejam quais forem as pessoas envolvidas.

Que não sejam premiados a mentira, a adulação, o oportunismo.

Que se não esqueça o respeito pelos valores éticos.

Que quem ocupa lugares de responsabilidade tenha uma conduta exemplar.

Que exista um clima de tranquilidade e de paz onde seja garantida a segurança de pessoas e bens.

4. Uma sã democracia exige uma comunicação social realmente ao serviço dos cidadãos. Onde se atue com isenção e procure informar com o máximo de verdade e de objetividade, mesmo que tenha de denunciar abusos de homens do poder. Que respeite o direito de discordar e este não seja a liberdade de caluniar, de difamar, de insultar.

Que os sindicatos estejam ao serviço dos verdadeiros interesses dos trabalhadores e não sejam correias de transmissão de qualquer força partidária.

Que as pessoas sejam servidas e não usadas. Que se lhes não recusem atenções e cuidados exigidos para os animais.

Que para os diversos lugares se escolham os mais conscientes e os mais competentes resistindo à tentação do nepotismo.

Que se trate como igual o que é igual e como diferente o que é diferente.

Que todos sejam, de facto, iguais perante a lei, pondo termo a privilégios e mordomias.

5. Uma sã democracia exige que a todos se proporcione trabalho digno e dignamente remunerado. Se ajude quem realmente precisa. Se não proceda a uma distribuição indiscriminada e cómoda de subsídios. Se não premeie nem estimule a preguiça e o parasitismo

Que se atribua a quem já não pode estar no ativo uma pensão digna, sem receio de tirar a quem possui reformas de volume exagerado.

Que se ponha termo a situações de fome e de pobreza extrema.

Que se respeite o direito à vida em todas as suas fases, dedicando particular atenção aos mais frágeis: às crianças, aos idosos, aos doentes, aos mais desfavorecidos.

Que se promova a criação de creches, de infantários, de lares de terceira idade dignos deste nome e acessíveis a pessoas de modestos recursos.

6. Uma sã democracia exige que ensino e educação andem de mãos dadas.

Que se liberte o ensino público de imposições ideológicas.


Autor: Silva Araújo
DM

DM

10 outubro 2019