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A democracia de ontem e de hoje

Não vou falar de democracia sem ter dela, pelo menos, uma ideia clara e distinta, isto é, um significado inteligente, embora genérico. Começaria, então, por afirmar o que já foi afirmado por tantos: a democracia é o governo do homem para os homens, árbitros do seu meio ambiente. Tudo isto me leva a desnovelar a sua historiografia, com recurso, para meu apoio e ajuda, aos dicionários e histórias da filosofia e da sociologia. Democracia é o sistema político em que a autoridade emana do povo (partido democrático). Democracia cristã é vista como a interpretação da democracia à luz da doutrina cristã (Doutrina Social da Igreja Católica). Democracia pode ser tomada como sistema político, comprometido com a igualdade ou com a distribuição equitativa do poder entre todos os cidadãos. Democracia pode ser um modo de organizar as relações do poder no seio de um grupo social soberano ou político. O princípio fundador da democracia é a afirmação de que toda a relação de poder entre societários e entre cidadãos se enraíza naqueles que obedecem e não naqueles que mandam, quer o façam em seu nome ou em nome de um princípio Transcendente, Deus, a Nação, a História, a Classe ou a Raça. Democracia pode ser tida como um estado político no qual a soberania pertence à totalidade dos cidadãos sem distinção de nascimento, de fortuna ou de capacidades. Sem entrar em especificidades e desperdícios dialéticos, vou, ligeiramente, afirmar que a democracia tem por objetivo, através da imposição da nobre liberdade, a autodeterminação para a identidade intrínseca em todos os indivíduos, ao cultivar-lhes a sua soberania. Tal soberania vai espelhar-se na melhoria da qualidade da sua vida, na libertação das circunstâncias e condicionalismos existenciais, obstáculos amesquinhadores e empobrecedores do indivíduo, tornado objeto pelos poderosos, que buscam nele o prestígio, a fama, os prazeres, a riqueza e presunção. O amesquinhamento de uns e o prestígio de outros estimulam, entre eles, um conflito de liberdade, que vai redundar na pobreza ou aniquilamento da própria democracia. Esta é a democracia de ontem e de hoje, bem espalmada nos intrépidos e, entre si, subjugados partidos políticos, com folgo suficiente para estoirar com o planeta. Em geral, toda a democracia tem os seus critérios, bons e maus, interesseiramente defendidos pelas classes políticas. Há, porém, um critério, ainda adormecido, que precisa de um valente abanão, que acorde e estimule os poderosos: é o critério transcendental, uno e relacional. São ramos que despontam, intrinsecamente e fora do tempo, do nosso natural e ôntico ser. Este critério supera toda a gama de motivações, interesses, emoções e todas as nossas ativas estruturas bio psíquicas, de carácter existencial. Advoga, perentoriamente, a unidade entre todas as democracias e indivíduos. Impõe a todos os partidos, classes e indivíduos, através dos seus imperativos, o bem universal e transcendente. Temos, agora, uma democracia universalmente livre, autónoma, responsável e una, liberta de todos os ídolos que são gerados e alimentados na cama existencial das emoções, motivações, interesses, necessidades, desejos, aspirações. É de louvar, em tal democracia, a sua congruência com o coração do ôntico ser humano em fuga para o Transcendente (Deus). Esta será a verdadeira democracia de hoje.
Autor: Benjamim Araújo
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7 março 2018