Os problemas mais difíceis exigem soluções simples. Poderia começar por aqui o preâmbulo de qualquer pré-avaliação que se queira fazer sobre o rumo das políticas urbanas, mas se inverteremos a pirâmide, também é fácil perceber que os problemas fáceis dispensam soluções complicadas. Apenas exigem coragem e determinação. Contudo, tendemos exatamente a complicar o que é simples e a simplificar o que é complexo. Não há nada como a distância e o olhar para as questões de forma desprendida para percebermos que nem tudo o que julgamos ser o é e que a única certeza que deve nortear a decisão é o bem comum, baseando em factos e não em desejos. Ou seja, a mais valia de acreditarmos num projeto disruptivo, é a sua durabilidade no tempo e a sua capacidade de transformar e moldar os hábitos comuns. A cultura urbana, nas suas diferentes dimensões, é um manto de hábitos enraizados, uma auto estrada de liberdade onde a vontade individual se sobrepõe ao interesse coletivo, onde passamos a vida a desejar o melhor para a nossa qualidade de vida, sem percebermos que fazemos parte do problema quando se tenta mudar.
Em Braga, como em qualquer outra cidade média europeia, os problemas cimentam-se porque as vontades políticas e as populares nem sempre coincidem quanto ao óbvio: temos de mudar se queremos ser um município viável.
Daí a importância de um elo fundamental entre as partes: a comunicação. Se em nova Iorque ou em Paris, grandes metrópoles, foi possível mudar e grandes avenidas ou centros compactados com a liquidez do transporte individual, mudaram de vida, não faz sentido pensar que uma cidade média portuguesa, tenha de viver de duodécimos nas políticas de mobilidade e de sustentabilidade. Fechar uma rua ao trânsito, aumentar a área pedonal ou simplesmente articular o transporte público com as áreas funcionais para nos movemos por necessidade, pode ser tão simples como acabar com a hierarquia dos privilégios. Ou seja, permitam-se a analogia, uma gravata num autocarro tem tanto valor como um chinelo nos pés de alguém e no entanto há uma expressa cultura que determina que o meu conforto tem de ser diferente do teu, porque eu tenho capacidade para me deslocar por meios próprios e tu não. Percorrer permanentemente as ruas da cidade, deslocar-se de autocarro, é uma ilustração fantasiosa para aqueles que acham, por exemplo, que ter o carro estacionado à porta do estabelecimento é um sinal de estatuto do qual não estão dispostos a abdicar.
Tal significa que, por vezes, são as soluções disruptivas as mais inteligentes. Aconteceu no passado com o fecho do núcleo sensível e histórico da cidade de Braga e deve nortear a ação política no presente e no futuro. Adiar soluções, em busca de consensos, serve apenas a perceção consensual, e não o interesse coletivo. A urgência é, nesta matéria, uma palavra de ordem, deve ser a locomotiva da ação política, não pode estar sujeita a cálculos mais ou menos amistosos; evolui, concretiza-se e cria raízes. É assim que mudamos. Seja com as políticas das áreas 30, de novos conceitos como as cidades 15 minutos que em Braga já é de 5 minutos em todo o território, em múltiplas dimensões dos serviços, ou com versões monolíticas de sentido único que invertem a multiplicidade de critérios na área da Mobilidade, tudo é possível quando somos capazes de eliminar as entropias pouco saudáveis que pululam no universo da pequena e ou da grande influência que cercam quem tem o poder de decisão.
A Cultura da gravata tem o condão de nos lembrar que o estatuto que nos outorga é efémero e não pode obstaculizar a ação de Mudança. Esta pode sempre causar mossa na avaliação que fazemos dos decisores, mas é sempre melhor do que nada fazer ou esperar pelo consensualmente correto.
Acredito que não há irreversibilidade em nenhum dos patamares da nossa pegada humana e por isso só posso aplaudir quem faz. Aos outros, resta-lhe o amargo de boca, de que, quer queiram ou não, mais cedo do que tarde, serão confrontados com a opção de porem ou tirarem a gravata quando tiverem de suportar obrigatoriamente a sustentabilidade coletiva. Tudo o resto é perceção, ruído e egoísmo.
DESTAQUE
Em Braga, como em qualquer outra cidade média europeia, os problemas cimentam-se porque as vontades políticas e as populares nem sempre coincidem quanto ao óbvio: temos de mudar se queremos ser um município viável.
Autor: Paulo Sousa