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A crise europeia, Portugal e as próximas eleições

Constata-se hoje que, passados 6 anos após o sucesso de Portugal no combate à bancarrota iminente a partir de 2011, continuam a surgir no horizonte preocupações graves em Portugal e na Europa.

A maior parte dos países do sul da Europa, não aproveitaram o crescimento económico registado antes da crise pandémica para efetuarem as reformas estruturais devidas, mas antes, aumentaram a sua dívida: países como a Itália, Grécia e França têm hoje dívidas públicas elevadíssimas, sendo mesmo a média da dívida na zona Euro, depois da pandemia, de 100% do PIB!

No caso francês basta observar o contraste entre a sua dívida pública de 2019 com a de 1980: a dívida pública de França é de 100% do PIB em 2019 e de 20% do PIB em 1980!

Os países do sul da Europa necessitaram de elevados montantes para combater a atual pandemia sem terem uma crise financeira grave que, mesmo havendo um sentido humanitário que o justifique, serve para perceber as dificuldades das respetivas contas públicas.

Portugal, com os governos da geringonça assumida ou encapotada, teve o mérito de aproveitar o crescimento robusto económico do país devido às políticas do governo anterior, para ir diminuindo a sua dívida e esse mérito, muitos vezes em contraste com outros governos europeus. É incontestável.

O que não quer dizer que as reformas estruturais que o país precisa não sejam importantes e, sem elas, Portugal continua com uma situação ao sabor da conjuntura, a ser ultrapassado por países há poucos anos muito mais atrasados que nós, podendo ser abalado ao mínimo sinal de vento forte.

Convido até o leitor a fazer um exercício mental para tentar encontrar, em 6 anos de governo socialista apoiado pela esquerda mais retrógrada da Europa, duas ou três reformas estruturais que têm impacto para melhorar, a médio ou longo prazo, a vida dos portugueses.

É preciso ter em conta que, na ausência nos últimos 6 anos de reformas estruturais, a situação portuguesa seria muito mais complicada sem a política expansionista do Banco Central Europeu, nomeadamente na compra de dívida pública, iniciada por Mario Draghi, que originaram as mais baixas taxas de juro de sempre.

Acontece é que esta política expansionista do Banco Central Europeu teve como consequência, a subida agora da inflação pela maior liquidez na economia, temendo agora os especialistas em finanças públicas que não possa ser controlada sem medidas fortes que podem originar uma forte recessão.

Este ano a inflação aumentou com rapidez, estimando-se que seja mais 4,9% face ao índice de novembro de 2020, tendo sido largamente ultrapassado o referencial de 2% que haveria para o atual segundo semestre.

O principal responsável pela missão do FMI em Portugal, seu antigo diretor do Departamento Europeu, teme mesmo que o Banco Central esteja refém dos países mais endividados e que, ao invés de cumprir o seu papel, venha a fazer política dando apoio orçamental aos países que não conseguiram controlar a dívida, em detrimento do controle da subida generalizada dos preços.

Paul Thomsen também teme que a revisão das regras orçamentais da União Europeia – necessária face à elevada divida pública de muitos países que lhes limita a capacidade de investimento para a transição climática e digital – sirva para acumular mais dívida e defende que estes mesmos objetivos devem ser conseguidos, ao invés, com a criação de poupanças que os permita realizar.

É opinião generalizada nas mais importantes instâncias internacionais que o sucesso português consistiu no aproveitamento da crise para fazer reformas estruturais importantes, ao mesmo tempo que, depois da saída da troika e antes da pandemia, Portugal baixou o nível da sua dívida conseguida pelo desenvolvimento económico criado pelas medidas anteriores, tendo sido a anterior bancarrota debelada pelo Banco Central Europeu, FMI, Comissão Europeia bem como pelos portugueses e autoridades portugueses, o que neste último caso, significa o governo de Passos Coelho.

Face a este quadro, as próximas eleições em Portugal são determinantes para sabermos o caminho a seguir: ou o poder pelo poder, mantendo tudo na mesma em agradar tudo e a todos, fazendo os mínimos e a continuar a distribuir sorrisos, mas a ser ultrapassado por países antes mais atrasados, ou o poder para Portugal se desenvolver com a implementação de reformas estruturais que permitam, menos impostos, melhores salários e aumento de riqueza nacional bem como aumento de riqueza no bolso dos portugueses.


Autor: Joaquim Barbosa
DM

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15 dezembro 2021