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A crise docente

IV – A cultura de escola.

Em termos de Psicologia do Trabalho, a escola é aquilo que, na respectiva linguagem, se chama uma Organização – tal como um hospital, uma fábrica, uma companhia de transportes etc. Ou seja – é uma empresa, ou melhor, um empreendimento visando um determinado fim. É um conjunto de recursos (humanos, técnicos e financeiros) que se «organizam» de modo a atingir um objectivo – seja ele material (caso de uma fábrica) ou imaterial (caso de uma escola). E é, justamente, a maneira como se organizam entre si esses recursos que determina o êxito ou o fracasso do empreendimento.

Daí que, consoante o objectivo, assim deverá ser a «organização». Esta, por sua vez, para ser eficaz, terá que ter em conta todas as circunstâncias (geográficas, económicas, culturais, sociais) em que se vai desenvolver – ou não será uma organização. É evidente que a organização de uma escola não pode ser igual à de um quartel ou de um hospital. Nem as escolas entre si se poderão organizar da mesma maneira: uma escola no interior de Trás-os- Montes ou do Alentejo profundo não poderá (nem deverá) ter a mesma organização de uma escola de Braga ou de Aveiro. E mesmo estas duas deverão ser diferentes, segundo as suas circunstâncias específicas.

Tudo isto parece (é) evidente, mas tudo isto parece esquecido dos responsáveis da escola pública portuguesa.

Ora, o que «cimenta» a boa articulação das três ordens de recursos em que atrás se falou, ou seja, o que solidifica uma boa e adequada organização é aquilo a que se costuma chamar «cultura de empresa»: um culto comum e cuidado de normas, regras, usos, costumes, disciplina (que não tem nada que ver com despotismo), autoridade (que nada tem com autoritarismo), tudo baseado no respeito mútuo dos intervenientes no processo. É uma espécie de «estilo de vida e de acção» que imprime carácter e define a organização e a torna diferente das suas congéneres.

Como organização que é (ou deverá ser) a escola deveria empenhar-se nessa «cultura de empresa», que é como quem diz, nessa «cultura de escola». E é mesmo essa «cultura» que explica a diferença de resultados entre o ensino público e o privado: neste há uma «cultura de escola», naquele não há.

As orientações pedagógicas ideologicamente orientadas que, nas últimas décadas, têm dimanado do Ministério da Educação, fizeram da Escola Portuguesa um conjunto de «desorganizações» sem estilo, nem carácter, nem ordem, nem disciplina. Onde o facilitismo (para haver muitos diplomados), a informalidade, o falso igualitarismo, reduzem os professores a tarefeiros, que dão as notas que os alunos, ou os pais, ou mesmo o Ministério lhes exigem. E onde se expõem a todos os vexames, quando não a agressões físicas, se assim não procederem.

Quem estará agora interessado em ingressar profissionalmente em «organizações» (?) deste jaez?

Em primeiro lugar é ao Estado que compete restaurar o prestígio que a escola pública teve e já não tem. Fazer a sua apologia sem obras nem resultados é pura demagogia. Mas também aos professores compete igual tarefa. É a velha história do ovo e da galinha: é a profissão docente que prestigia a escola pública ou a escola pública que prestigia a profissão docente?

Nota: por decisão do autor, o presente texto não obedece ao impropriamente chamado acordo ortográfico.


Autor: M. Moura Pacheco
DM

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12 julho 2022