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A corrupção fere de morte a essência das relações humanas

Nunca pensei que houvesse tanta corrupção nas sociedades ditas democráticas a todos os níveis, mas, com mais incidência e em grande escala, na área da política. Uns convivem normalmente com a corrupção; outros, embora critiquem estas situações, na hora certa lá votam para que os corruptos se mantenham no poder. A corrupção e o compadrio convivem perfeitamente. Poucos se salvam desta teia devoradora do erário publico.

Porém, os políticos bifrontes não se atropelam nem se esbarram nos corredores do poder, porque estes são muito largos! Todos têm telhados de vidro. Entretanto, os dois milhões e meio de pobres continuam a sobreviver sem que os ricos e os responsáveis se sobressaltem.

Desde que aos governantes nada falte, mesmo que recebam subsídios e ajudas de custo nada recomendáveis eticamente, os outros não interessam muito. E para distrair o povo, lá vem o já tão gasto chavão de que “à justiça o que é da justiça e à política o que é da política”.

No entanto, a realidade desmente-o no dia a dia, uma vez que muitos crimes de corrupção e grandes desvios de capitais públicos são, precisamente, praticados por políticos no desempenham das suas funções em cargos do poder e, quantas vezes, protegidos por “compadres” do poder judicial. Acresce ainda que muitos dos grandes processos judiciais arrastam-se eternamente nos tribunais sem que algo de punitivo daí surja para os corruptos.

O homem é uma criatura sociável por natureza, não para explorar os outros, nem para enriquecer desonestamente, mas para defender e praticar a justiça social e promover o bem-estar das pessoas. A satisfação do nosso impulso social é fundamental e indispensável para o nosso equilíbrio emocional e para a nossa realização pessoal, mas sem nunca beliscar os direitos dos outros.

A coexistència humana não é uma mera associação de pessoas, mas sim uma convivência sadia, justa e harmoniosa. Tanto em família como em sociedade, fazemos parte, por inerência da própria natureza, de um grupo inter-relacional pacífico.

A defesa e a prática da justiça e da solidariedade são atitudes integradoras da natureza humana. Infelizmente, as comunidades modernas, apesar da globalização que as une continuamente, espelham uma situação paradoxal: vivem cada vez mais distantes na convivência saudável e na solidariedade, vigorando, pelo contrário, a injustiça, a vingança, a conflitualidade, a perseguição partidária e a desonestidade, quer pessoal, quer profissionalmente falando.

Dos corruptos exala um odor de podridão moral que perturba e adoece o convívio humano. E há tantas pessoas que, influenciadas também pelos fenómenos comunicativos desviantes, adquirem comportamentos anti-sociais, desumanizando as relações humanas.

Não são os haveres materiais que mais interessam. A prática dos bons princípios éticos começa no seio familiar. A família continua a ser a célula básica e fundamental da sociedade. Os momentos mais felizes da nossa vida deviam ser aqueles que são passados em casa, junto da família. Aquilo de que o mundo mais precisa é, sem dúvida, da compreensão mútua entre as pessoas e as nações. Sem famílias harmoniosas não haverá comunidades sãs, pacíficas e humanamente progressivas.

A sociedade é uma extensão da família. Conforme for o lar assim será a nação e o mundo. A autêntica reforma social consiste em erguer o género de sociedade de que o homem precisa. Mas, “como ninguém dá o que não tem”, quem não viver honestamente na sua vida pessoal, nunca será capaz de o fazer na vida pública. Devemos refletir que somos nós que erguemos as sociedades, mais ou menos organizadas, em que as relações entre as pessoas e as classes sociais são determinantes para o bem-estar comum.


Autor: Artur Gonçalves Fernandes
DM

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10 maio 2018