O sismo que abalou a Turquia e a Síria demonstrou, mais uma vez, como são efémeros os teres e haveres nesta vida terrestre, quer sejam em anos de vida, quer sejam em bens materiais. O transitório é uma ideia constante que nós colocamos no índice da eternidade, neste doce engano construímos futuros. Na verdade, o planeta que compartilhamos com outros animais não passa de uma bola suspensa no ar sem qualquer apoio que a aguente. Não há seguro para a queda. Estamos no espaço a girar em volta da estela mais próxima sem sabermos bem todas as leis físicas que nos determinam uma órbita que nos espanta pela sua constância de trajetos. Giramos em cima duma plataforma que se move lenta mas constantemente para destinos que não controlamos. Temos, no seio da Terra, uma panela de pressão que, quando não suporta a força dos gases que fabrica, expele cinzas e fogo pelas válvulas de escape, os vulcões. Desta conjuntura que a nossa casa/planeta não seja segura, nem em tempo, nem em qualidade, ou perenidade. Somos uns ocupantes que aumentamos estas fragilidades com o uso excessivo do seu solo, com uma poluição maléfica e crescente, e ainda com a ideia soberanamente egoísta de que somos os senhores deste planeta. Na verdade, coabitam connosco outros animais, outras plantas que não têm culpa alguma deste constante cavar buracos para o fim da habitabilidade. Os terramotos, como a palavra o diz, significam que a terra se move nas suas entranhas e que produzem forças que, em segundos, destroem vidas e habitações que demoraram anos ou mesmo séculos a construir. A ciência em fenómenos destes é curta e muito mais ignorante para uma previsibilidade a curto prazo. O que se passou há dias na Turquia e na Síria não é inédito, infelizmente. Assim foi em 1755 em Lisboa, em Pompeia, ou na Califórnia, no Chile, em Xianxim e em tantos outros locais, semeando mortos aos milhares. A título de exemplo, em Xianxim morreram 830 000 pessoas. Mas os povos choram pouco tempo sobre os estragos e continuam a pensar que os tetos só desabam na cabeça dos outros. Sempre que há uma fatalidade destas, oiço falar na construção anti sísmica como meio de minorar tantos desabamentos mortais; mas a verdade é que nunca tanto se construiu tão mal como agora, desde a infiltração de águas pluviais , bolores e humidades, até aos rebocos exteriores que se desprendem das paredes deixando atrás das fachadas caiadas um rasto de cimento em bruto como feridas crónicas. Temos habitações alveolar onde vivem pessoas em colmeia que não têm nem nunca terão qualquer defesa para um sismo. Se aquilo desaba, cai igualmente o prédio contíguo e, como um baralho de cartas, ruirão os que lhe estão pegados. Ganha-se em vidas o que se perde em terreno de construção. Para os que já estão assim construídos, não há remédio a dar-lhe, mas penso que, para novas construções, é preferível os prédios serem construídos em blocos, e, claro, com aplicações arquitetónicas anti sísmicas. Que se não diga que caiu porque se não conhecia, que se diga que caiu porque não quisemos saber. O colunista assim o viu, assim o sentiu e assim o escreve.
Autor: Paulo Fafe