A democracia portuguesa anda com nota mínima por parte dos portugueses, dado que apenas 10% dizem ser plena. E de lá de fora dizem-nos que tem falhas, ao que acrescentaria fragilidades e muito aquém do que há 47 anos nos vem sendo prometido pelos sucessivos Governos. Provam-no as décadas de estagnação da economia e a perda de competitividade no seio da União Europeia. A mesma que nos diz, sermos avessos às reformas do Estado de que o país carece. E se a isto juntarmos uma dívida externa galopante, a incapacidade deste sistema ideológico incentivar e acarinhar a iniciativa privada, não sendo capaz de conseguir investimentos para criar mais riqueza e produzir mais e melhores empregos, com vista à sustentabilidade não só da Segurança Social, como da crescente despesa pública, deixaremos às novas gerações um país à míngua.
Ora, se há responsáveis pela perda de qualidade desta democracia são, eles, o Partido Socialista (PS) e o Partido Social Democrata (PSD). Mas mais os socialistas por, já mais que uma vez, deixarem o país à beira da ‘banca rota’. É que enquanto os sociais-democratas se têm mostrado mais frugais (forretas), os socialistas fazem socialismo até ao último cêntimo – como se verá com a ‘bazuca europeia’. Daí este marasmo a que é devotada a democracia, sem um líder do maior partido da oposição que afirme ao que vem e para onde quer levar o presente estado democrático. Pois se está à espera que António Costa abdique dos partidos que o sustentam, bem Rui Rio poderá esperar sentado até que tal aconteça.
Com efeito, este passo de caracol a que temos andado na via do crescimento económico, em muito se deve à falta de empenho, competência e seriedade de muitos dos que nos vão governando. Sendo a corrupção o maior flagelo que atinge Portugal, penalizado que tem sido com a saída de capitais para paraísos fiscais. Com a agravante, ainda, de adotarmos o sistema de pescadinha de rabo na boca, em que desde que haja mais dinheiro em caixa, sem mais delongas logo se são atribuídos novos ‘jobs for the boys’ em pontos estratégicos e noutros, entretanto, criados.
Já há 100 anos os partidos eram descredibilizados por não terem um rumo para o país. Hoje, junta-se a eles as instituições públicas, como a Justiça, pilar de democracia que anda a bater no fundo, não havendo ninguém, nem alternativa partidária, que tenha sido capaz de levar a cabo uma revolução nos seus sistemas anacrónicos, como a morosidade vigente. Mas não só. Atentemos ao sistema eleitoral e aos 230 deputados: se aquele não se reforma e estes não emagrecem a Assembleia da República, a democracia fica hipotecada na sua evolução por tempo indefinido. Falta-lhe representatividade, uninominal, dos eleitos pelos cidadãos e a correspondente responsabilidade daqueles para com os seus eleitores.
É uma democracia que conta, ainda, com um Presidente da República que vem assobiando para o lado à espera que o tempo e a pandemia passem, a fim de ir parar ao lote dos aposentados, ou para um Lar da Misericórdia escrever as suas memórias e editar um álbum de selfies dos abraços e cotoveladas. De resto, creio bem que não será por ele que sairemos da estagnação que faz do nosso um dos países mais atrasados, se não o último da Europa. Nem o vejo capaz de dar um murro na mesa, exigindo uma limpeza de cima a baixo que deixe o país livre de impurezas, no que às políticas, às ideologias e aos saques – que nos atrofiam como nação – concerne. E varrer da democracia quaisquer extremismos.
Mas não é só por estes fatores que ‘a chama da democracia se apaga’. É também – e muito – pela crescente onda de escândalos ocorridos nesta espécie de reino, usurpado e exaurido quer por políticos rapaces, quer pelos recentes ‘reis dos frangos’. Gajões, esses, que deixam a banca depauperada e à míngua de todos nós, contribuintes. E que, ainda por cima, têm a lata de nas Comissões Parlamentares de Inquérito se gozarem a cara e dos nossos deputados da Assembleia da República.
Autor: Narciso Mendes
A chama que se apaga

DM
19 julho 2021