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A caminho de uma Igreja inteiramente ministerial?

A Igreja é mistério e tem ministérios. Os ministérios existem precisamente para testemunhar o mistério.

Com efeito, «o ministério – nota von Balthasar – é o depositário não de um conjunto de fórmulas, mas do mistério para o qual cada fórmula não sabe senão remeter».

Ressalvemos que o mistério é diferente do enigma e do segredo.

O enigma, quando é decifrado, deixa de ser enigma. O segredo, quando é descoberto, deixa de ser segredo.

Já o mistério, quando é revelado, continua a ser mistério.

Revela-se – desvela-se – incessantemente como mistério.

Trata-se do desígnio de amor do Pai que atinge a sua plenitude no envio do Filho e do Espírito Santo.

Daí que o equivalente – mais que tradução – de «mistério» seja «sacramento», enquanto sinal ou instrumento da amorosa união entre Deus e o homem.

Estamos medularmente perante um mistério de fé, que actua pelo amor (cf. Gál. 5, 6).

Uma vez que o amor é a grande certificação da fé, não espanta que von Balthasar tenha assinalado que «só o amor é digno de fé».

Na sua «polifónica» diversidade, os ministérios estão ao serviço do anúncio da fé e da vivência do amor, o mandamento (sempre) novo (cf. Jo 13, 34).

Um dos ministérios que avultava já nas comunidades paleocristãs era o do «catequista», identificado pelo vocábulo grego «διδασκαλος» (cf. Act 13, 1); 1Cor 12, 28; Ef 4, 11) e que se traduz habitualmente por «mestre», «professor» ou «doutor».

Tal ministério era exercido – como observa o Papa Francisco – por pessoas que «transmitiam, de forma orgânica, permanente e integrada nas várias circunstâncias da vida, o ensinamento dos apóstolos e dos evangelistas».

Não admira, por isso, que o documento que institui o ministério laical de catequista comece justamente por reconhecer que estamos perante um «ministério antigo» («antiquum ministerium»).

Ao longo dos tempos e em muitos locais, foram os catequistas que asseguraram a presença do Evangelho. Alguns deles fundaram mesmo algumas Igrejas.

Recorde-se que, além do leitor e do acólito, São Paulo VI sinalizou já a possibilidade de se promover outros ministérios instituídos.

Quando, a 10 de Maio, institui o «ministério laical do catequista» – de modo «firme e estável» – , o Santo Padre apresenta-o como «testemunha da fé, mestre e mistagogo, companheiro e pedagogo».

Daí a necessidade de que os chamados a esta missão recebam «a devida formação bíblica, teológica, pastoral e pedagógica».

Eis, no fundo, mais um passo para que a Igreja se vá tornando inteiramente ministerial, longe da dicotomia entre «agentes de um lado» e «destinatários inactivos do outro».

Afinal, ser cristão é estar disponível para a missão. Não é a Igreja por natureza missionária?


Autor: Pe. João António Pinheiro Teixeira
DM

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25 maio 2021