Não sei se é obra feliz do destino ou até intencionalidade pré determinada que fez com que o Presidente da Câmara de Braga fosse o primeiro Presidente eleito do Eixo Atlântico do Noroeste Peninsular.
De facto, se fosse possível destacar alguma cidade com forte pertença nesta parte da Península Ibérica, Braga seria uma das escolhidas pelos laços antigos que temos com a Galiza e pelo seu forte contributo para a independência de Portugal.
Já no SEC. XIV a. C. , dois séculos após a fundação de Bracara Augusta – a quem Braga também deve o nome – a nossa cidade foi capital da Galécia romana, território que compreendia toda a Galiza e o Minho, descendo até um pouco abaixo de Coimbra.
E mesmo depois disso, nos anos 409, já da nossa era, após a conquista dos suevos, Bracara Augusta continuou como capital deste reino que já compreendida, além da Galécia, terras até ao Algarve bem como cidades da agora Espanha.
Braga, nessa altura, foi outra vez uma importante capital de um vastíssimo reino!
Já para não falar da decisiva importância de Braga – e da sua Igreja – para a independência de Portugal, onde os Bispos D. Paio Mendes e D. João Peculiar tiveram um papel decisivo, para a independência da Igreja portuguesa como condição para um reino português independente.
A Diocese de Braga – depois Arquidiocese – que existe desde o Século III, tem jurisdição em paróquias para lá do distrito de Braga e teve jurisdição eclesiástica sobre o noroeste peninsular na antiga Galécia. O nosso Arcebispo Primaz é denominado também Arcebispo de Braga e Primaz das Espanhas, como consagração da vitória sobre o arcebispado de Toledo. Vitória essa tão querida pelo nosso irreverente Bispo D. Pedro contra D. Bernardo de Toledo, cerca de duzentos anos antes da fundação da nossa nacionalidade.
Assim sendo, a bragalidade – universal – existe há muitos séculos antes de Cristo e contribuiu fortemente para que o território da antiga Galécia seja o que é hoje em termos culturais, económicos, turísticos, religiosos, universitários e sociais.
Este desígnio teve a sua quota de responsabilidade no sentido identitário entre as gentes do Norte de Portugal e da Galiza que, apesar da diferença das suas identidades nacionais, têm muito em comum em termos de cultura, hábitos, língua, pertença a um território e sentimento comunitário.
Há assim uma forte dimensão política de Braga, ao longo dos séculos, para a caracterização e afirmação de todo este imenso território com uma vasta população.
A cereja em cima do bolo foi o facto de Braga, por unanimidade, ter sido nomeada o ano passado, em Santa Maria de Feira, a Capital da Cultura do Eixo Atlântico para o ano de 2020, com um vastíssimo programa cultural anual que servirá para, através da cultura, da arte, do entretenimento, do turismo, da religiosidade juntar ainda mais as populações do noroeste peninsular.
Braga já organizou e recebeu grandes eventos do Eixo Atlântico, como o encerramento dos seus 25 anos com a presença do Primeiro Ministro, os Jogos do Eixo Atlântico, a Expocidades, tendo a nova gestão autárquica, de há 6 anos a esta parte, dado um fortíssimo contributo para o desenvolvimento desta entidade inter-regional .
Se bem conheço a dimensão política de Ricardo Rio, um dos avanços fortíssimos do Eixo Atlântico – além da dimensão cultural e turística – será o reforço considerável da sua dimensão económica, contribuindo para o aumento do emprego, dos investimentos, dos negócios e da riqueza neste território.
O Eixo Atlântico é uma entidade em construção ao longo dos anos que, tal como a União Europeia, só será sentida pelos seus povos quando perceberem da sua utilidade para a qualidade das suas vidas, sendo essencial, além da continuação do caminho já traçado, que haja também uma forte componente de investimento público que una esta euro região.
Braga, em 2020 – com a eleição do seu Presidente de Câmara como o primeiro Presidente do Eixo Atlântico bem como sendo a sua Capital da Cultura – segue o seu desígnio universal, caraterística da bragalidade ao longo dos séculos.
Autor: Joaquim Barbosa