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A Bielo-Rússia como parte da Rússia

  1. A 1ª capital da Rússia foi Kiev, na actual Ucrânia). A palavra “História” vem do grego e significava “inquérito, informação (verdadeira), exame”. A História não é uma ciência exacta, mas é uma ciência. Não deixa de ter a dignidade de uma ciência. Dentro dos limites dos factos e da Verdade, é uma ciência sujeita a interpretações várias mas apenas na medida em que sejam sérias. Daí que, se é um facto histórico que o Estado Russo foi fundado no séc IX d. C., por Rurik, e a sua 1ª capital foi Kiev, percebe-se que a ideia de “povo russo” inclui os actuais habitantes da vasta região de Kiev, mais tarde chamada de “Ucrânia”, isto é, “a fronteira” (do império). A nação russa tem mesmo uma origem proto-histórica anterior, nos pântanos e florestas do rio Pripet (a zona de Tchernóbyl, imagine-se…); a qual é hoje dividida entre Ucrânia (a sul) e Bielo-Rússia (a norte). O império de Rurik rapidamente se expandiu para sudeste e para nordeste, durante os reinados de Oleg o Sábio (m. 912); Igor (m. 945); Sviatoslav (m. 972); Vladimiro I (m. 1015); Iaroslav o Sábio (m. 1054) e outros. O império russo de Kiev estendia-se desde o nordeste da actual Roménia até à Curlândia (fronteira da Finlândia). E incluía cidades como Colomea, Halit, Przemysl, Minsk, Vitebsk, Yaroslavl, Moscovo, Kursk, Riazan, Novgorod e Nijni-Novgorod, etc..

  2. Os mongóis põem fim ao 1º império da Rússia, em 1245). Foi na batalha de Kalka, perto do mar de Azov, no sul, no ano de 1223. Só que, Gengis-Khan morre logo a seguir. Apenas em 1245, os mongóis submetem “todas as Rússias”. E será pelo “curto espaço” de 200 anos. O povo russo só haverá de se reerguer aos poucos, do séc. XV em diante. A região que é a 1ª a libertar-se é a de Moscovo. Esta cidade primitiva é que vai comandar o esforço de renascimento nacional russo. E é por isso que desde então até hoje, Moscovo (que toma o nome do rio local, o Moskvá) se tornou a capital de todo o povo russo, incluindo o que habita em Minsk ou em Kiev (ou na Sibéria…). Esta é uma visão histórica (i. é., séria) da questão do que significam os separatismos russos. E o resto é basicamente, mistificação. Conceda-se contudo que, no caso da Ucrânia do séc. XX, o poder central moscovita, comunista, praticou morticínios, repressões, depredações; e causou fomes que não é fácil esquecer. Só que não foram tanto os russos; foram antes os “bolchevistas”. O que originou que, quando veio a traiçoeira mas de início bem sucedida invasão hitleriana, uma parte significativa dos ucranianos tivesse apoiado o invasor alemão. E voltasse a sofrer forte repressão moscovita (comunista) em 1944-45.

  3. E se as regiões de Guimarães ou Coimbra declarassem a independência?). Para o patriotismo russo (e de muitos ucranianos e bielo-russos), a separação decretada em 1989, por Yéltsine, deve ter causado uma sensação parecida com a que um português sentiria se os cantões das nossas 2 primeiras capitais (Guimarães e Coimbra) decidissem separar-se da Nação. E sentir-se-iam no direito de reagir, militarmente até.

  4. Yéltsine conseguiu o que Napoleão e Hitler falharam). Gorbátchov (que ainda é vivo) e o alcoólico e impulsivo Boris Yéltsine conseguiram em 3 anos destruir o Império russo (soviético). Foi entre 1989 e 92, e as suas fronteiras europeias datavam basicamente de finais do séc. XVIII. Era um “império” (e não um reino) porque incluía regiões da Ásia Central e do Cáucaso que nunca foram eslavas. Não por abranger a Ucrânia e Bielo-Rússia. Napoleão em 1812 e Hitler em 1942-44 bem tentaram. Mas só o sábio e heróico Yéltsine o conseguiu…

  5. De onde vem a “singularidade” bielo-russa?). As línguas que falam um bielo-russo ou um ucraniano diferem tão pouco do russo, como o galego difere do castelhano. Tal como a Ucrânia ocidental, a Bielo-Rússia esteve alguns séculos dominada pelo decadente reino da Polónia-Lituânia, vasta região para onde desde o fim da Idade Média emigraram muitos judeus. Os quais se tornariam estalajadeiros e ricos comerciantes, influenciando a política local. Ao ponto de serem alvo de massacres ocasionais por parte dos aldeões e polícia (os “pogroms”). São eles também as principais vítimas, já entre 1939 e 45, da mortífera vaga hitlerista. E, pelos vistos, os seus parentes euro-americanos não esqueceram. E a fronteira da NATO vai hoje avançando perigosa e paulatinamente na direcção de Moscovo.

  6. Testando a proverbial calma e sabedoria de Pútine). As mortíferas víboras matam-se no ninho. Os incêndios e fogos-postos têm de ser atacados nos primeiros minutos. Caso contrário, as consequências costumam ser muito mais devastadoras. Escrevo em 24 de Agosto. Não me admirava que, se os elementos anti-russos locais criarem perigo suficiente para a paz na região, o exército russo invadisse a sua ex-província de Minsk e acabasse com a sua artificiosa e traiçoeira independência. Tal como aconteceu em 2014 com a Crimeia, quando o golpe anti-democrático da praça Maidan criou uma Ucrânia anti-russa.

  7. As eleições americanas). Com Trump a mandar, não há guerra contra a Rússia. Porém, é preciso cuidado se forem os invejosos e irresponsáveis que hoje comandam o partido Democrático, a alcançar o poder nos EUA. Haja paz! Mas… “si vis pacem, para bellum”.


Autor: Eduardo Tomás Alves
DM

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1 setembro 2020