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A atual conflitualidade na sociedade portuguesa

Greve aqui, greve ali, greve acolá! Não há setor que escape à interrupção temporária, voluntária e coletiva de laboração como forma de protesto ou de reivindicação. De facto, se analisarmos as diferentes áreas de atividade poucas terão escapado a este fenómeno revelador da crescente conflitualidade na sociedade portuguesa.

Professores, auxiliares de ação educativa, enfermeiros, médicos, técnicos de diagnóstico e terapêutica, ferroviários, operários de diversas indústrias, estivadores, oficiais de justiça e, pasme-se, até juízes entram neste imenso manancial de gente que recorre à greve para, entre outros requisitos, reclamar e exigir melhores condições de trabalho.

Tendo em conta que nas sociedades democráticas modernas como a nossa o processo de socialização levou a que a maioria da população aspire e tenha o direito ao sucesso na vida e atendendo à composição ideológica dos partidos que suportam o governo de Portugal há mais de três anos, não se compreende que exista no tempo presente uma conflitualidade social muito acima do que era de esperar.

Não é verdade que o país possui um governo do Partido Socialista (PS) apoiado pelas três formações parlamentares mais à esquerda do espetro ideológico? Não é verdade que o Partido Comunista, o Bloco de Esquerda e o Partido Ecologista eram considerados, até há pouco, apenas partidos de protesto? Não é verdade que são estas formações partidárias que dirigem e exercem grande influência na Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses – Intersindical Nacional (CGTP-IN)? Então como entender e explicar esta aparente contradição?

Ao apoiarem o governo minoritário do PS, os partidos à sua esquerda, pretenderam não só afastar a coligação PSD/CDS que tinha ganho as eleições sem maioria, como também influenciar a governação e, deste modo, marcar terreno e fixar o seu eleitorado. Desde então, cada um por si elenca e divulga à população portuguesa os ganhos obtidos junto do governo, no sentido de justificar o apoio à atual solução governativa. É de certa forma ficar com um pé no governo e o outro na oposição, ou dito de outro modo, “estar bem com Deus e com o Diabo”.

Apregoaram aos quatro ventos o fim da austeridade, a reposição de salários e de direitos, o aumento do emprego, o crescimento económico, enfim, tudo parecia cor-de-rosa!

No que à austeridade diz respeito, os portugueses já perceberam que há muita retórica. Quanto ao resto, houve sem dúvida reposição de salários e outros benefícios mas, em contrapartida, temos uma elevada carga fiscal, que não dá mostras de descer.

Relativamente ao descongelamento das carreiras de vários grupos profissionais, incluindo os professores, a maioria do povo já interiorizou que não é possível porque não há dinheiro para tudo. E no que se refere ao crescimento, já se pressente um notório arrefecimento que nos irá deixar na cauda da Europa.

Volvidos três anos desta inédita solução governativa quase nada mudou. Ficaram por fazer as reformas necessárias para modernizar o país. A reorganização do Estado, da Segurança Social e a verdadeira descentralização foram, mais uma vez, adiadas e nada de verdadeiramente estrutural se alterou.

Não se podia esperar outra coisa! Com o apoio dos partidos da extrema-esquerda, mesmo as reformas que o próprio PS por ventura gostaria de ter implementado não seriam possíveis. A legislatura não chegaria ao fim e, certamente, a conflitualidade social que hoje testemunhamos seria ainda bem maior.

Nestes últimos anos, como resultado deste caminho, temos o país adiado. Assistimos ao desinvestimento em serviços essenciais tais como Infraestruturas, Saúde e Educação e, mesmo assim, vemos proliferar uma conflitualidade social há muita não observada.

Neste cenário, com a construção europeia senão ferida de morte, mas pelo menos profundamente abalada pelo “Brexit”, pela insubordinação italiana e pela onda de populismos crescente, não há lugar a grandes otimismos. Resta-nos esperar por melhores dias e, principalmente, para todos os crentes, ter fé na proteção dos Santos e de Nossa Senhora da Conceição, padroeira de Portugal.


Autor: J. M. Gonçalves de Oliveira
DM

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27 novembro 2018