Chegados a setembro, regressa o habitual corrupio do dia-a-dia!
Se o início do ano escolar é para muitas famílias a primeira inquietação a quebrar o remanso que o verão e as férias sempre proporcionam, no presente, essa tranquilidade é ainda mais abalada pelas incertezas trazidas pela pandemia. Na verdade, a parca informação sobre o modo como irá funcionar a maioria dos estabelecimentos escolares para minimizar os riscos de contágio, é um grande motivo de sobressalto.
Incertezas a que se juntam as dúvidas sobre a capacidade dos serviços de saúde em responderem a um eventual recrudescimento da pandemia, à imprevisibilidade da evolução da economia, às consequências sociais de um aumento significativo do desemprego e, não menos importante, à ameaça de instabilidade política que o primeiro-ministro, António Costa, trouxe para a agenda a propósito do Orçamento do Estado (OE) para o próximo ano.
Com as eleições presidenciais previstas para janeiro e a pouco mais de um mês de sabermos se o OE que nos moldará a vida em 2021 será aprovado na Assembleia da República, por mais que nos pareça que o país avança sem grandes sobressaltos, se mergulharmos na crua realidade verificaremos que, infelizmente, a situação é bem mais instável e mais grave.
Gravidade que resulta não só dos novos contextos gerados pela epidemia que assolou o mundo, mas também pela circunstância de termos um governo minoritário que, atempadamente, não tratou de construir os apoios que o pusessem ao abrigo da precariedade dessa mesma condição, tal como fez na anterior legislatura.
Agora com o país refém de um problema que só muito parcialmente pode controlar, com uma conjuntura externa muito complexa, cativa e dependente da mesma situação, António Costa, sentindo-se incomodado pela possibilidade de não conseguir viabilizar na Assembleia da República o OE para 2021, apela aos seus antigos parceiros da “geringonça”, ao mesmo tempo que dramatiza com a ameaça de uma crise política que só poderia ser concretizada com a sua própria demissão.
No cenário vigente de insegurança e de muitas dúvidas sobre o futuro que nos espera, com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, em fim de mandato, com a necessidade premente de investir bem os dinheiros prometidos por Bruxelas para acudir à crise económica e a escassos meses de Portugal assumir a presidência do Conselho da União Europeia, uma crise política colocaria o país nos antípodas da credibilidade e da decência internacional.
Não creio que António Costa, depois de concretizar a sua estratégia de chegar ao poder e após um mandato relativamente bem conseguido, queira abrir mão da liderança do governo. Julgo mesmo que a declaração que fez aos partidos à esquerda do Partido Socialista, nomeadamente ao Bloco de Esquerda e ao Partido Comunista, de querer assumir uma relação formal e duradoira, é mesmo sincera. A ameaça de uma crise política não terá passado de um arrufo de parceiros enamorados e de uma encenação para melhor concretizar a sua estratégia de governar com maior estabilidade.
Uma crise política neste momento traria benefícios a muito poucos e, em certa medida, poderia fazer perigar o próprio regime democrático. O maior prejudicado seria o país no seu todo e, certamente, os portugueses mais pobres e mais desprotegidos.
Neste contexto, não acredito em crise nenhuma.
No entanto, se estiver rotundamente enganado, admito que Marcelo Rebelo de Sousa, mesmo em fim de mandato, não deixaria de tomar em mãos todos os poderes que detém para concretizar aquilo que ainda há poucos dias afirmou e não daria cobertura a qualquer manobra que pudesse pôr em cheque o futuro dos portugueses e manchar o bom nome de Portugal.
Autor: J. M. Gonçalves de Oliveira