Na hora que passa, carregada de sombras, tornamo-nos mendigos de umas franjas de luz.
Já não ambicionando desfrutar de ondas de alacridade a tempo inteiro, bem gostaríamos de ir entrevendo alguns frisos de alegria nestas noites escuras.
Acontece que nem nos apercebemos de que nós somos portadores de «uma grande alegria».
Como lembrou Hans Urs von Balthasar, «anunciar o Evangelho é anunciar uma grande alegria».
Esta «grande alegria» – adverte o Papa Francisco – «enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus».
Isto significa que, ao contrário do que a «revolução individualista» decreta, não é em si que o eu se satisfaz.
A alegria, para ser inteira, nunca pode ser «solteira». Não é ensimesmado que o eu se sente realizado.
Às vezes, dá a impressão de que reescrevemos a conhecida máxima de Protágoras. Para muitos, com efeito, «o eu é a medida de todas as coisas».
Uma vez que o eu não está disposto a submeter-se aos outros «eus», então a «civilização individualista» torna-se também a «civilização triste».
Na verdade, até a tristeza corre o risco de ser «individualista». É o que se vê em «pessoas ressentidas e queixosas», sempre a reclamar de tudo e a protestar com todos.
É, pois, urgente implementar uma existência totalmente «ex-cêntrica», procurando o centro fora do eu.
Só uma existência «alter-centrada» (centrada no outro) concorrerá para o bem de todos.
Ninguém como Jesus Cristo incorpora um padrão de vida inteiramente voltado para os outros: para Deus (a Quem dá a vida) e para o ser humano (por quem oferece a vida).
Deste modo, só em Jesus Cristo venceremos a «fadiga de ser eu» e a insatisfação de nos sentirmos apenas nós.
Nenhum cristão é ele; todo o cristão tem de ser Cristo nele (cf. Gál 2, 20).
Acontece que, até em relação a Cristo, o nosso egoísmo se desvela. Parafraseando Santo Agostinho, diria que, frequentemente, desejamos mais o que Cristo nos possa dar do que o próprio Cristo.
É preciso que a humanidade «respire» mais Cristo na vida dos cristãos. O maior antídoto frente à «ego-latria» é incorporar o Evangelho de Jesus com alegria.
Não era em vão que o Apóstolo recomendava: «Alegrai-vos sempre no Senhor» (Fil 4, 4).
Só na vida de Jesus encontramos alegria e luz. Só Ele ama os outros «mais» que a Si mesmo.
É um caminho exigente, mas também felicitante. Que maior alegria pode haver do que para os outros viver?
Autor: Pe. João António Pinheiro Teixeira