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Reconquistar o Espaço Público: um compromisso com o futuro

Voltar de férias tem sempre um sabor agridoce. Depois de uns dias de pausa, regressamos ao ritmo diário, às rotinas repetitivas, ao leva e traz dos filhos, às correrias entre casa, escola dos filhos e trabalho / escola e atividades extra. Mas este regresso trouxe-me também uma inquietação interior: a perceção clara de que precisamos de fazer mais, de exigir mais, de lutar por um espaço público que verdadeiramente pertença às pessoas.

No país vizinho, Espanha, onde recentemente estive, percebi o que significa viver em cidades que apostam em devolver o espaço urbano aos cidadãos. Ruas transformadas em espaços e praças vivas, ciclovias que ligam quarteirões inteiros, escolas rodeadas por zonas amplas e seguras, livres de automóveis e de poluição. É uma realidade que nos mostra que é possível outro caminho, que há alternativas ao modelo atual de cidade dominada pelos carros, pelo ruído e pelo ambiente poluído.

De regresso a Braga, o contraste é duro. O nosso quotidiano está marcado por deslocações que deveriam ser simples, mas que se tornam num desafio à segurança, à saúde e até ao bem-estar psicológico. Como aceitar que as nossas crianças continuem a respirar ar contaminado à porta da escola, entre carros em segunda fila, motores a trabalhar e buzinas impacientes? Como aceitar que não consigam circular de bicicleta em segurança, porque as ciclovias são escassas, descontínuas ou simplesmente inexistentes? Como ignorar que o ruído constante das avenidas nos impede até de conversar sem levantar a voz?

Reconquistar o espaço público é mais do que uma questão de urbanismo: é uma questão de justiça social, de saúde pública e de futuro coletivo. Precisamos de cidades que devolvam autonomia às pessoas, começando pelos mais pequenos. Dar-lhes condições para irem sozinhos ou acompanhados de bicicleta para a escola não é apenas um capricho; é um investimento na sua independência, na sua confiança e na sua saúde. É também um ato de respeito para com o ambiente e as gerações que virão.

Braga tem de apostar, com coragem, na mobilidade suave: mais e melhores ciclovias, passeios seguros, ruas pacificadas junto às escolas, transportes públicos que sejam de facto uma opção prática e sustentável. Não podemos continuar a adiar esta transformação. A cada ano que passa, estamos a hipotecar a qualidade de vida não só dos nossos filhos, mas de todos os que habitam a cidade.

Se noutras cidades é possível, por que razão não será em Braga? Precisamos de acreditar que merecemos melhor. Precisamos de exigir que o espaço público seja pensado para as pessoas — e não para os automóveis. É tempo de nos levantarmos contra a apatia e a resignação. O futuro constrói-se hoje, no caminho para a escola, no passeio diário, no ar que respiramos e no silêncio que ainda podemos recuperar.

Reconquistar o espaço público é, afinal, reconquistar a nossa liberdade.

Tânia Covas Costa

Tânia Covas Costa

13 setembro 2025