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Chegou a hora do realismo político

 

 

A necessidade é a ditadora que obriga e ensina seja quem for. Nos tempos políticos de hoje, há uma necessidade que obriga todos os partidos políticos a colaborar na estabilidade parlamentar. Estamos, como todos sabemos, num regime democrático mas simultaneamente num regime parlamentar. A época das ideologias foi vencida pela gerência da contabilidade pública. O melhor gestor da coisa pública tornou-se a figura central da democracia. A única ideia política dos nossos dias é a governabilidade, isto é, tornou-se imprescindível olhar para os resultados gestionários como se olha para um salvador. As ideologias esfumaram-se perante o realismo do dia-a-dia; sonhar com uma sociedade diferente das necessidades dos povos, é viver numa bolha do passado. Ninguém sustenta a renda de casa ou a necessidade de tratamento hospitalar, por exemplo, com ideologia, isto é, à espera que o governo ideológico consiga dar uma casa a cada um, embora esse direito seja sagrado como dignidade pessoal e consagrado como direito constitucional; mas isto mas não passa de um sonho que, quanto mais nele se aposta, maior é o desespero senão mesmo o desânimo de cada um. E é este estado de alma que se sobrepõe a tudo e a todos. O povo está a virar costas aos partidos “antigos” da democracia portuguesa porque nunca foram capazes de transformar as promessas em realidades. Vai-se esfumando o tempo em que os argumentos ideológicos levantavam sonhos, mas que o realismo de cada um se transformou em quimeras. Ora, sabemos que, passado o tempo do encanto das promessas, vem o tempo da realidade. E isso não existe, porque cada partido promete mais do que sabe e pode realizar e, por isso, dá-se o divórcio e até o enfado de tanto ouvir contar estória do dia de amanhã, dia que nunca chegou ou chegará. Os sentimentos são feitos de sonhos mas também de desânimos e parece-me observar que estes se sobrepõem aos restantes. O caminho da “salvação democrática” estará na capacidade de colocar em primeiro lugar as obras e depois as palavras. São estas que hão de justificar as obras e não as palavras que hão de justifica-las. Parece-me, igualmente, que as últimas eleições foram um teste à democracia ideológica; talvez a sua derrota se justifique pela inoperância da tão propalada mudança que nunca ninguém viu ou sequer pressentiu. Não me admira, pois, que os partidos que puseram as mãos nas feridas nunca saradas da democracia, colhessem tão abundantemente os votos de protesto da sociedade portuguesa. Chegou a hora de fazer ; chegou a hora de dizer que vai fazer; chegou a hora de realizar e não do discurso. E depois, meus senhores, chegou a hora de falarem dos problemas do país; deixem o ataque pessoal e aproveitem o tempo que gastam nisso para estudar a fundo as propostas dos casos da nação. Estamos fartos das vossas tricas. Chegou a hora de serem mais. Chegou a hora de pensar numa estabilidade de governo. A aliança mete-se no dedo de quem connosco quer casar.



 

Paulo Fafe

Paulo Fafe

2 junho 2025