Numa altura em que vários atos eleitorais se aproximam, começam a surgir, numa base diária, sondagens sobre tudo e mais alguma coisa. Há para todos os gostos e feitios. Nenhum freguês fica mal servido pois encontra sempre uma que lhe convém. A pergunta que faço é: para quê e a quem servem realmente as sondagens? Resolvi fazer uma sondagem para tentar responder.
Para quê
Quando existe uma ideia a defender, as opiniões de terceiros podem ser úteis, caso esses terceiros sejam especialistas no assunto e nos possam ajudar a fortalecer a ideia. No entanto, pela própria natureza das sondagens, que se pretendem anónimas, heterogéneas e representativas dessa entidade chamada “os Portugueses”, não me parece que os terceiros aqui se enquadrem na categoria de especialistas. Assim sendo, se quem avança com a ideia, depois a altera em função de opiniões não qualificadas, isso indicia que talvez não esteja tão seguro do que defende, no melhor cenário. No pior cenário, podemos até achar que afinal o que nos quer vender é outra coisa e que aquela ideia serve apenas de papel de embrulho para algo que não vemos. Em ambos os casos, parece-me que as sondagens não são úteis.
Para quem
A maioria das sondagens que vamos vendo partem de órgãos de comunicação social que, apoiados em agências, institutos, universidades, ou outros, fazem o seu melhor para elaborar as ditas cujas. Na sua génese, a comunicação social tem o nobre objetivo de escrutínio da sociedade e, no caso em apreço, da política. Assim, seria de esperar que, em período de campanha, se focassem no escrutínio dos políticos e não dos eleitores. Ora, se analisarmos bem as sondagens, acontece precisamente o contrário.
Assim sendo, não me resta outra opção que não desconfiar que, afinal, o nobre objetivo não é aqui a bússola orientadora. Será a necessidade de criar factos políticos? Será a necessidade de criar notícias para ter tempo de antena? Não seria possível ter factos políticos e notícias fazendo realmente o escrutínio das ideias? Provavelmente sim, mas provavelmente daria mais trabalho do que fazer uma sondagem.
Conclusão, seguimos pelo caminho mais fácil e menos útil, o que me leva a concluir que também por este prisma, as sondagens se revelam um tempo perdido.
O resultado da minha sondagem
As sondagens estão para os políticos como o açúcar para as crianças. Todos sabemos como ficam alteradas quando têm um pico de açúcar. Felizmente, em ambos os casos, o efeito passa ao fim de algum tempo. Ainda assim, é algo a evitar.
As sondagens, no seu formato atual, não trazem qualquer vantagem para o debate político. O tempo que se gasta a fazê-las e as discuti-las era mais bem empregue a escrutinar as ideias que vão a jogo em cada eleição. É do interesse dos partidos, que realmente tenham algo a dizer ao país, desligarem-se das sondagens e focarem-se nas ideias. É do interesse dos cidadãos, que realmente queiram votar de forma informada, analisarem as ideias que cada partido traz para cima da mesa e perceberem se vão ou não de encontro àquilo que querem para o seu país, região ou autarquia. É do interesse dos órgãos de comunicação social, que realmente querem servir a nobre função que lhes cabe, deixarem-se de sondagens inúteis e apostarem na análise das ideias a jogo e no esclarecimento da população que servem. No final do dia, o cliente tem sempre razão. Neste caso, enquanto continuarmos a servir um mau produto, as sondagens, continuaremos a ter clientes insatisfeitos, as pessoas, e empresas de media em dificuldades. A abstenção também se combate por esta via. Menos sondagens, mais informação, por favor.
Ficha técnica
Esta sondagem foi realizada por mim para mim no dia 9 de maio de 2025. O universo alvo é composto pelos indivíduos do sexo masculino com 18 ou mais anos recenseados eleitoralmente e residentes em minha casa, compondo um total de 1 inquiridos. A taxa de resposta foi de 100%. A margem de erro máximo é de 0%, com um nível de confiança de 95%.