No dia 8 de maio comemorou-se o Dia Mundial do Cancro do Ovário, uma doença que se apresenta de forma silenciosa até estadios avançados, com implicações importantes no tratamento e sobrevivência das pessoas por ela afetada. O aumento de conhecimento sobre este cancro mostra-se, assim, essencial para aumentar o grau de suspeita e contribuir para um diagnóstico mais precoce.
O cancro do ovário é a neoplasia ginecológica mais frequente no Ocidente, representando cerca de 30% dos casos, com maior incidência na faixa etária dos 50 aos 65 anos. Estima-se que por ano, em todo o mundo, mais de 200 000 mulheres desenvolvam cancro do ovário e cerca de 100 000 morrem da doença. Em Portugal, em 2022, 682 mulheres foram diagnosticadas de novo e 472 acabaram por falecer, correspondendo à neoplasia ginecológica com maior letalidade a nível nacional. Esta letalidade muito se deve ao diagnóstico tardio, uma vez que cerca de 75% das mulheres foram diagnosticadas em fases avançadas da doença.
O diagnóstico é dificultado pelos sintomas inespecíficos, ou muitas vezes inexistentes, que caraterizam esta doença nos seus estadios iniciais. São relatados sintomas como distensão e desconforto abdominal e pélvico persistentes, diminuição do apetite, emagrecimento, refluxo, enfartamento e saciedade precoces, cansaço extremo, urgência urinária, alterações do trânsito intestinal (diarreia ou obstipação), hemorragia vaginal e dor durante as relações sexuais. Dada a localização próxima dos ovários com os aparelhos gastrointestinal e urinário, facilmente se atribuem os sintomas a outras causas, atrasando o diagnóstico. Muitos dos sintomas surgem, assim, quando a doença está localmente mais avançada, com invasão de orgãos vizinhos, fazendo com que não sejam raros os diagnósticos em contextos mais agudos, com a presença de massa abdomino-pélvica a condicionar quadro de ascite, oclusão intestinal ou dispneia em contexto de derrame pleural.
A causa do cancro de ovário é desconhecida. Contudo, foram identificados fatores de risco como a idade avançada, ausência de filhos biológicos, idade precoce da primeira menstruação, menopausa tardia, necessidade de terapêutica hormonal de substituição e o tabagismo. Em cerca de 20% dos casos existem também fatores genéticos, com um aumento do risco de desenvolver a doença se existir história familiar.
Mais acresce à dificuldade do diagnóstico, a inexistência, atualmente, de métodos de rastreio eficazes para a deteção precoce do cancro do ovário.
Assim, perante uma doença silenciosa, com fatores de risco na sua maioria impossíveis de contornar e a ausência de métodos de rastreio eficazes e eficientes, é crucial o aumento da literacia em saúde, promovendo, junto da comunidade feminina, a adoção de um estilo de vida saudável e o autoconhecimento, aumentando o estado de alerta perante sintomas inespecíficos persistentes. Não deixa de ser importante promover também a sensibilização dos profissionais de saúde para que estes sintomas sejam adequadamente valorizados e orientados.