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O cansaço do pensamento e do trabalho

Num dos últimos discursos (27.09.2024) do Papa Francisco na Universidade de Lovaina, depois de falar das tarefas da Universidade e resposta aos desafios que hoje nos interpelam, diz: “a primeira tarefa da universidade é esta: oferecer uma educação integral para que as pessoas tenha as ferramentas necessárias para interpretar o presente e planear o futuro”.

A formação cultural nunca é um fim em si mesma e as universidades não devem correr o risco de se tornarem “catedrais no deserto”; elas são, pela sua própria natureza, lugares que impulsionam ideias e novos estímulos para a vida e pensamento humanos e para os desafios da sociedade, ou seja, espaços generativos. “Devem ser pois lugares de fermento, sal e luz do Evangelho, sobretudo as católicas, ao alargar as fronteiras do conhecimento”.

O pontífice cita mesmo uma passagem bíblica, a contestar a multiplicação de noções e teorias na formação académica,mas a de fazer um espaço vivo, que englobe a vida e fale a vida:

No Livro das Crónicas fala-se de Jabés, que dirige a Deus esta súplica: “se Tu me abençoares, alargarás o meu território” (I Cr.4,10). Jabés que significa “dor”, foi assim chamado porque a sua mãe sofreu muito no parto. Jabés, porém, não quer ficar fechado na própria dor, no seu próprio lamento, e reza ao Senhor que “alargue o território” da sua vida para entrar num espaço abençoado mais amplo, mais acolhedor. O contrário são os fechamentos, isolamentos. Não se trata de uma visão imperialista, que invade territórios para se afirmar, ou ser grande, mas de alargar e tornar-se um espaço aberto ao homem e à sociedade, abrindo horizontes, transformar a terra num céu resplandecente, ainda uma miragem…

Num tempo em que se abriram tantas universidades em Portugal e tantos alunos as procuram, fazendo das tripas coração, e pedem redução de propinas, em face dos custos que atormentam os progenitores, seria de perguntar quais os objetivos que os movem e como se preparam para se desenvolverem e desenvolver o País que os forma com tanto esforço dos contribuintes. Será para se servirem, para servir o país, ou para o explorarem, e depois irem para fora… servir outros, que sempre nos exploraram? 

Sem uma educação e formação mais humana, menos racionalista e calculista, cai-se numa incerteza permanente, de perda de húmus e de patriotismo, que nos leva a viver num cansaço de espírito: Já Fernando Pessoa interpretava: “Pensar incomoda como a chuva” e Franz Kafka, numa visão trágica e angustiante, confessa: “o que penso é que você simplesmente não pode ser incomodado com a verdade, porque isso é muito cansativo” (Cf. Descrição de uma luta).  

Por vezes, parece haver um racionalismo sem alma, de robots, numa cultura tecnocrata, muito egoísta, que se restringe apenas ao visível, matemática, ou “ laboratorial”como a de um meu antigo aluno que se dizia ateu ou agnóstico, mas frequentava aulas de Teologia e Biologia a ver se encontrava Deus no laboratório…

O Papa disse mais: “quando falta o espanto (étonnement, wonder, erstaunen) não se pode pensar; o espanto é o início da filosofia, é o início do pensamento- aquele assombro interior que nos impele a procurar mais além, a olhar para o céu, a descobrir aquela verdade escondida ,e saber qual o objetivo último e a meta deste caminho. “Isto levou Romano Guardini, contra este cansaço do espírito e racionalismo sem alma, a perguntar-se: “Apesar de todos os progressos, porque é que o homem permanece tanto e de cada vez mais, desconhecido de si próprio?Porque perdeu a chave para compreender a sua essência?” 

Só a partir de Deus, do alto pode reconhecer-se a si mesmo.

É verdade que não sabemos tudo. O que nos trará a IA? Mas precisamos de algo mais para transformar um país, constantemente adiado, apesar de tantos “doutores”, que, outrora de rural, de oficinas e artesanal, hoje não tem profissionais e maltrata os que nos procuram para tarefas que não queremos fazer, porque se prefere mendigar subsídios e cantar loas a um Socialismo que edulcorou uma certa preguiça ou se espraia em tantas das nossas universidades.

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Rosas de Assis

12 abril 2025