Ao longo das últimas décadas, temos tentado melhorar a vida das pessoas e do planeta através da tecnologia. Mas será que temos realmente conseguido?
A inovação foi imensa, e a tecnologia cresceu de forma impressionante. Reduzimos o analfabetismo, melhorámos os cuidados médicos, aumentámos a produtividade e impulsionámos a economia. No entanto, a qualidade de vida das pessoas não melhorou na mesma medida. Se analisarmos indicadores como a distribuição da riqueza, a desinformação e o crescimento de novas doenças, especialmente as de foro mental e oncológicas, muitas vezes associadas ao stress crónico e à ansiedade, percebemos que ainda há um longo caminho a percorrer.
O planeta enfrenta desafios ambientais graves, a pobreza persiste e a sociedade parece cada vez mais pressionada por objetivos, produtividade e resultados, sem o devido retorno social. Este desequilíbrio entre progresso tecnológico e bem-estar humano deveria envergonhar-nos, pois a inovação deveria ter gerado um impacto positivo muito mais evidente.
Contudo, surge agora uma nova oportunidade. Será que a vamos aproveitar?
A tecnologia como aliada da Humanidade
Em qualquer projeto tecnológico, os especialistas respondem a cadernos de encargos com desafios técnicos e funcionais, procurando fazer melhor e mais rápido. Mas a evolução tecnológica, por si só, não basta sem considerar a informação que é processada e, acima de tudo, as pessoas que a utilizam.
Aqui reside a grande oportunidade: a inclusão explícita de requisitos sociais e humanos no desenvolvimento tecnológico, especialmente na Inteligência Artificial (IA) e na robotização.
Imaginem um mundo onde as organizações e os programadores consideram, desde o desenho e conceção, o impacto das suas criações na sociedade e no bem-estar das pessoas. Imaginem que, em vez de a tecnologia ser desenvolvida apenas para otimizar processos e reduzir custos, fosse também desenhada para melhorar a qualidade de vida dos utilizadores.
Vejamos um exemplo prático. Suponhamos que um operador numa empresa trata diariamente 100 documentos, sob grande pressão e acumulando atrasos. Agora, com IA, a empresa pode processar 5000 documentos por dia, eliminando filas de trabalho, mas também ponderando despedir o operador devido à automação.
E se, em vez disso, a tecnologia fosse usada para apoiar esse trabalhador? Se, em vez de ser descartado, ele passasse a validar erros do sistema, interpretar relatórios e tomar decisões baseadas nos resultados? E se, como resultado, o seu horário de trabalho fosse reduzido em 20%, mantendo o mesmo salário e recuperando tempo para a família e os amigos? Dessa forma, o trabalhador estaria mais realizado, feliz e a empresa beneficiaria de processos mais eficientes, regulares e sem erros.
Se olharmos para a ficção, a comparação com Star Wars não é descabida. Tal como o R2D2 e os androides da saga, a tecnologia deve ser um apoio às pessoas, ajudando-as a cumprir as suas missões e apoiando-as na sua evolução.
Um futuro que depende de todos nós
Para que esta visão se concretize, são necessárias políticas e regulamentos adequados. Não basta difundir princípios e orientações – são precisas medidas concretas e indicadores que garantam que a tecnologia serve a humanidade e não o contrário.
Temos uma oportunidade única para moldar um futuro mais equilibrado, onde o progresso tecnológico e o bem-estar humano caminhem lado a lado. A evolução da sociedade dependerá das escolhas que fizermos agora. Afinal, se conseguimos chegar até aqui, cabe-nos garantir que seguimos em frente sem comprometer as condições de vida das gerações futuras.
O espaço criativo e evolutivo do ser humano continuará a ser seu. A diferença está em como decidimos utilizá-lo.