Têm razão aqueles que dizem que não mudou nada de significativo em Portugal com o actual Governo. Isso é especialmente evidente no sector da saúde: falta de médicos de família, médicos e outros profissionais de saúde desmotivados, esperas desesperantes nas urgências dos hospitais, urgências de pediatria e obstetrícia fechadas, grávidas ansiosas por não saberem onde vão dar à luz os seus filhos… uma infinidade de problemas que põem em causa a viabilidade do Sistema Nacional de Saúde (SNS). Quem está dependente do serviço público de saúde – a grande maioria dos portugueses – passa um tormento cada vez que necessita de uma consulta de urgência, de um exame ou de uma cirurgia. Evidentemente que esta situação de precariedade do serviço de saúde não foi criada nos últimos meses. Infelizmente, arrasta-se há muito tempo. O Governo anterior assistiu, pactuou com a situação, e manteve-se relaxado de princípio ao fim. Fez anúncios durante o tempo todo, e foi muito, que não alteraram o estado da saúde em Portugal. O actual Executivo está a fazer o mesmo, ainda que tenha prometido que resolveria a situação em dois tempos. Não resolveu. Acusou-se, e com critério, António Costa e os seus ajudantes de propaganda e mais propaganda, por anunciar sem concretizar. Luís Montenegro e a sua equipa vão pelo mesmo caminho, aquele que assumiram não seguir de maneira nenhuma.
Entretanto, não têm parado neste mesmo sector da saúde as substituições dos conselhos de administração de inúmeras Unidades Locais de Saúde (ULS). A percepção que se tem é que nada mais tem sido feito além das mudanças nas cúpulas destes organismos que se supõem ser de gestão e não políticos. E assim sendo, os gestores nomeados hão-de ter sido submetidos ao parecer da Comissão de Recrutamento e Seleção para a Administração Pública (CRESAP) que terá apreciado positivamente os candidatos. A não ser que a sua prestação tenha sido menos boa, o que parece não ser o caso, ou que os gestores tenham manifestado desejo de sair, o que também não tem sido regra, não se justificam as substituições que têm ocorrido e se prevê que continuem. Não se justificam as que aconteceram nos últimos meses e as que estão em curso, da responsabilidade do actual Governo, como não se justificaram as que aconteceram mais ou menos logo depois que o anterior Executivo tomou posse. Um frenesim de alterações sem sentido à luz da gestão, sempre com custos pesados em termos financeiros e em termos operacionais. Na verdade, acontecem num contexto de pressão para as unidades de saúde, a braços com problemas de toda a espécie, desde logo, a falta de recursos humanos. As justificações assentes na necessidade de “novas abordagens de gestão” – expressão redonda utilizada uma ou outra vez nos tempos que correm para não explicar nada – apenas iludem as verdadeiras razões que, na verdade, são político-partidárias. No fim, o mexilhão é que fica sem as respostas que contam verdadeiramente para a sua vida e que justificam que o SNS exista. O sector da saúde não é o único a precisar de estabilidade organizativa, que não tem tido, mas este é particularmente sensível por estar em causa cuidados essenciais aos cidadãos. Quando se está tão ocupado com os aspectos organizativos e, em concreto, com a nomeação de novos gestores, fica pouco tempo para decisões sobre os recursos de que carece a saúde e sobre a implementação das políticas que contam.
Por definição, um plano de emergência é para executar com celeridade e debelar as causas dos problemas. O actual Governo apresentou um plano de emergência para a saúde, mas falhou, ou então não passou de propaganda barata. O Governo não o admite, embora a situação não tenha atado nem desatado, para não dizer que tende a degradar-se. As mudanças prioritárias que têm sido levadas a cabo não estão a mudar a saúde dos portugueses.