Como pode o eleitor discernir quem, politicamente, fala verdade, ou quem faz apenas propaganda enganosa? É difícil, mas há que despir o capote partidário, o gosto ideológico e o paladar das promessas para vermos claro nesta rede que nos estendem os partidos políticos em cena de campanha eleitoral. Este exercício de ficarmos “nus” perante tudo e todos , levar-nos-á à razão da escolha? Chega para termos um voto consciente? Não será uma espécie de pesca em águas turvas? Vejamos: nenhum dos atores em disputa terá uma solução ideal para encher por completo o nosso vaso da satisfação. Mas, então, se nenhum é perfeito, quem devemos escolher ? Julgo que o primeiro passo é fugirmos das promessas falaciosas, das que sabemos não poderem ser cumpridas: não há dinheiro para comprar a lua quanto mais o céu. Em segundo lugar, devemos fugir daqueles que só dizem mal dos outros, só apontam defeitos, mas não apresentam as suas soluções; em terceiro lugar devemos rejeitar aqueles que nada fizeram quando puderam e agora dizem que vão fazer o que não realizaram. Chegamos à conclusão de que não temos em quem votar. Quantos ficam? Se a nossa exigência for muito fina, não sei se escapa algum; no entanto, temos de escolher quem vai governar a nossa autarquia. Em princípio, será o indicado pelo partido porque não há candidaturas nominais. Na verdade, este tipo de eleitor é aquele que inventou a má consciência e outros sentidos para se mortificar na escolha do ótimo ou, pelo menos, do bom. Ora, com esta atitude em que a sua opção pode não ser a ideal, vota contra si próprio. Deixa de ser consciente para ser resignado. Mas vota porque assim o determina a democracia que é um sistema perverso porque diz que há uma vontade maioritária que determina quem manda quando, na verdade, o que determina é um ato de intenções de domínio partidário. Por outro lado, com o facto do eleitor se revoltar contra si, surge-lhe, nesta obrigatoriedade, algo de profundo porque controverso, mesmo enigmático porque se não define ou traça limites vigorosos de opção clara, e inaudito porque cheio de contradições. Voto naquele que não conhecendo me dizem que é bom. Mas será? De interrogação em interrogação emigra para a vontade de não acreditar, de não ter alguém para eu votar. E, num suspiro de resignação, e por respeito da democracia, deste sentimento de saber o que é a liberdade, vou votar, de venda nos sentidos do consciente, no menos mau porque o perfeito não existe.