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Ao ritmo do apito

Ser árbitro nunca foi fácil, mas hoje em função da velocidade de execução, do ritmo dos jogos e dos meios que envolvem a função, tornam a carreira de árbitro ainda mais complexa. Os sistemas desportivo e escolar têm feito esforços em promover a função de árbitro de forma positiva e construtiva, pois não podemos esquecer que sem árbitros não há boas competições, pois este agente desportivo é uma das suas peças fundamentais para tal. Contudo, há problemas graves para a atratividade da função. Desde logo, os árbitros jovens são lançados para o terreno, sozinhos, e, muitas vezes, são enxovalhados, maltratados, pelas assistências dos diversos jogos nas diferentes modalidades. Diria: que culpa têm as mães desses árbitros, por estes estarem a fazer uma tarefa, mal paga, mas, que, por missão e vontade própria, decidem abraçar? 

Hoje, os árbitros de alto nível têm meios de avaliação e de ajuda eletrónica que, eventualmente, os ajudam a fazer bons julgamentos em diversas situações. No entanto, nenhum árbitro começa pelo topo, daí a importância da ajuda que deve ser dada, principalmente, dos próprios espetadores/pais. E neste aspeto, é lamentável alguns comportamentos da assistência. Muitos deles pais dos atletas, o que ainda mais graves se tornam, pelo exemplo que dão para dentro do terreno de jogo.

Ser árbitro exige tempo, conhecimento e também muitos erros (o erro terá que ser uma oportunidade para a evolução). No outro dia, ouvi um entrevistado a mencionar uma frase muito interessante: “Um erro nos Estados Unidos é currículo, em Portugal é cadastro…”. Se a cada erro o árbitro é dilacerado, é muito claro que os mais jovens nem sempre estão dispostos a esta pressão ou exposição, porque recebem mal e não têm a capacidade de encaixe para aguentar tudo o que vem das bancadas e dos bancos. Por isso, desistem. Portanto, é necessário perceber que todos nós contribuímos para a formação dos jovens árbitros. Para se atingir um nível de excelência é fundamental que as caraterísticas da pessoa, candidata a árbitro, sejam bem estruturadas e também são muito importantes para este (difícil) caminho. A um bom árbitro exige-se imparcialidade, segurança, valores morais, controle emocional, rapidez na análise e assertividade na decisão, conhecimento específico das regras, empatia, supervisão eficaz do jogo e de todos os seus elementos, pedagogia, mas recebem muito pouco para isto tudo. Não há muitos árbitros nas diversas modalidades, é preciso investir na sua formação. Tornar a função atrativa é uma missão importante dos diversos organismos (Federações, Ministério da Educação, IPDJ), mas para isso acontecer é preciso a colaboração positiva de todos os intervenientes, incluindo nas bancadas e a que surge dos bancos (principalmente dos treinadores). Crescer com um apito é difícil, mas é preciso e temos que os tratar positivamente, porque não é sempre o culpado de todos os “males” do derrotado!...


 

Carlos Dias

Carlos Dias

24 janeiro 2025