Haja quem tenha o sentido de Estado e de responsabilidade como o Diretor Nacional da Polícia Judiciária teve, nas declarações que prestou anteontem, e os abutres da política mediática e do quanto pior melhor, perderão por KO e o seu argumentário será reduzido à insignificância. Só falta mesmo é a Procuradoria-Geral da República, tão célere a acusar a torto e a direito, ainda não tenha percebido que tem todos os instrumentos necessários para avançar contra aqueles que cometem crimes como a desinformação e a manipulação em massa, procurando tirar vantagem para obtenção de ganhos eleitorais de forma ilícita, através do uso de instrumentos como plataformas e OCS, causando enormes prejuízos ao Estado de Direito, ao alimentar falsas perceções e realidades alternativas. É deste modo, penso eu, sem tibiezas, que se defende a verdade e os factos e nada disto atenta contra esse valor fundamental em Democracia chamado Liberdade de Expressão. Esta não é um Direito ilimitado como nos diz a Constituição; comporta o dever de cumprir com limites que não ponham em causa o bom nome de pessoas, instituições ou comunidades, com o objetivo de conseguir fazer valer uma opinião diferente da dos demais. Está, por isso, de parabéns o Diretor Nacional da Polícia Judiciária, Luís Neves, que, preto no banco, pôs ordem na desordem: “Sentimento de insegurança é gerado pela desinformação e não se confirma”. Mas disse mais e apontou o dedo a quem fomenta e dá crédito aos que, à falta de argumentos de natureza credível, se propõem criar a desordem: “Estamos a assistir a um momento de desinformação, ‘fake news’ e ameaças híbridas e é isso tudo que leva a fundamentar a perceção de insegurança”, para logo a seguir identificar uma parte dos culpados, citado pela Agência Lusa : “Temos hoje vários canais de televisão que passam uma e outra vez aquilo que é notícia de um crime”, reconhecendo que isso vem “criar uma ideia de insegurança que não tem a ver com a insegurança plena do crime” existente do ponto de vista estatístico. Quem como eu assistiu na segunda metade da década de 90 ao que se passou com a comunidade cigana, particularmente em Vila Verde e como desde então, um pacto dos OCS deixou de identificar alegados criminosos pela cor ou origem étnica, sabe a importância que esta alteração teve para apaziguar a histeria coletiva gerada e alimentada por uma classe política em plena campanha eleitoral, desejosa de obter dividendos eleitorais, num caso que nos envergonhou a todos como sociedade, independentemente de se saber ou escrutinar se o cidadão A ou B e a sua família praticavam ou não os crimes que lhe eram imputados. Quase três décadas depois, ouvir um partido, na Assembleia da República, solicitar que as autoridades judiciais tornem público a origem da nacionalidade e outros dados identitários dos cidadãos é, no mínimo, uma irresponsabilidade. Se o mesmo partido tivesse solicitado, como manda o bom senso, uma reunião com as autoridades judiciais, procurando perceber se há o mínimo de verdade na perceção instalada entre imigração e segurança e tirasse as suas ilações para apresentar um argumento válido na Casa da Democracia para a tomada de medidas corretivas, vá que não vá; o contrário é crucificar uma determinada comunidade que escolheu o nosso país para viver ou trabalhar, sabendo-se como é fácil a generalização que é feita a partir de um caso. Esta irresponsabilidade, ser secundada por um jornalista, é ainda mais grave porque se confunde imigrantes com redes internacionais que chegam ao nosso país para praticar crimes e se vão embora, se não forem apanhados. Quando o são, figuram como estrangeiros. João Miguel Tavares, cujos textos leio no Público, acha que resolve o problema dos que lançam achas para a fogueira na AR, com a divulgação desse dado. Nada de mais errado e para que não restem dúvidas, qualquer sociólogo e até um politólogo habituado a acompanhar o comportamento reativo dos portugueses, explicará isto melhor do que eu. Já agora, caro jornalista: bastava pedir essa informação às autoridades para ficar mais sossegado. Eu por cá continuarei a dizer com muito agrado: স্বাগতম e स्वागत छ: Bem-vindos em Bengali e Nepalês.