Quando, em 1974, entrei para o Seminário Menor de Braga, depressa conheci o P. Joaquim Alves, professor de Português. Um homem forte, predominantemente sisudo, solitário, extremamente cioso da língua de Camões, que dominava como poucos.
O que eu não sabia na ocasião, e que só descobri quando comecei a mergulhar no âmbito maravilhoso da música sacra, é que ele era poeta. Sim, aquele homenzarrão com cara de poucos amigos – pelos menos, assim nos parecia, na perspetiva dos nossos 10 anos de idade – aquele professor que ficava furioso se confundíssemos a acentuação de Júnior e Juniores, era poeta e já autor de vasta obra, que publicava com o pseudónimo de Carlos de Vilar.
O que o tornou mais conhecido, foi sem dúvida o facto de ser autor do texto de grande parte dos cânticos mais populares de Manuel Faria e de Benjamim Salgado – quem não conhece o cântico à Senhora do Sameiro: “Tu podes, és mãe de Deus, e deves, és nossa mãe”? É admirável a sua capacidade de construir quadras, de sabor popular, mas sempre com bom gosto e profunda mensagem teológica.
Na sua postura reservada, nunca aparecia na ribalta do mundo, muito menos na comunicação social. E assim foi passando pela vida, entre os seus poemas, a que os amigos músicos davam vida para além do gabinete, e as suas aulas. E faleceu na humildade própria dos poetas tendencialmente introvertidos. Praticamente só nós, os que passámos pelo seminário em certas épocas, é que o conhecemos.
O que eu desconhecia completamente, até este ano – e a descoberta que fiz é que me leva a escrever estas linhas – é uma outra faceta, completamente inédita, do P. Joaquim Alves. Como sabemos e foi suficientemente anunciado, o Colégio D. Diogo de Sousa celebra este ano 75 anos de existência. Ora, para enorme surpresa minha, quem o fundou foi o P. Joaquim Alves, conjuntamente com um grupo de amigos. Mas ele, então pároco de S. Vicente (também nunca o imaginei pároco), é que teve a ideia brilhante, perante as necessidades que sentido do seu contacto quotidiano com a juventude. Ideia que foi apresentada e aprovada pelo Arcebispo de então, D. António Bento Martins Júnior, que até nem acreditou muito na sua viabilidade. O P. Joaquim Alves foi, por isso, um visionário resistente e insistente. Assim se criou, em 1949, aquela que viria a ser uma das instituições de ensino mais prestigiadas da região e mesmo do país.
Fiquei espantado com a descoberta e, por isso, não resisto a prestar aqui uma justa homenagem a este meu professor, poeta e fundador. Faz parte dos grandes da nossa cidade e Arquidiocese, que não podemos de modo algum esquecer.
Entre as diversas iniciativas para a celebração dos 75 anos, o Colégio D. Diogo patrocinou uma obra do conhecido artista Vhils. A obra, executada numa das paredes frontais do Colégio, representa um ou outro rosto. Da rua por onde passo, não consigo identificar de quem se trata. Mas quero crer que se trata do fundador do Colégio, P. Joaquim Alves, como justa homenagem ao homem visionário, que conseguiu vislumbrar a importância da educação e o papel incontornável da Igreja nesse campo. Afinal, não era apenas poeta da palavra; era também poeta da ação. E é desses poetas que precisamos, ainda hoje.