Não sou a favor da elefantíase de qualquer cidade que se caraterize por um rápido e caótico aumento do seu crescimento e volume: e, mormente, porque este fenómeno raramente é sinónimo de desenvolvimento, na lógica de que tudo que cresce muito externamente, tal como o elefante, acaba por, em termos internos – segurança, bem-estar, sociabilidade e liberdade – sofrer de subdesenvolvimento.
Ora, transportada esta realidade para a vida diária dos cidadãos, estes se confrontam com excesso de trânsito, de barulho, de confusão, de violência, de poluição, de pressa, de desconforto, de insegurança; e, obviamente, as matrizes de um desenvolvimento pensado e ajustado – sustentável – às realidades e medidas sociais ou ficam na gaveta, ou ficam no tinteiro, ou ficam na cabeça dos governantes ou têm uma lenta e deficiente aplicação.
E com esta verdade nos confrontamos quando visitamos uma aldeia, vila ou cidade de nós bem conhecidas, após ausência prolongada ou de alguns anos, apenas; por exemplo, quando adultos visitamos o local onde nascemos e vivemos, na infância, o nosso espanto é abissal, seja no aspeto humano e social, seja na fruição de horizontes e paisagens.
Pois é, a este movimento imparável e lógico preside o avanço tecnológico, económico e cultural que, em termos obviamente latos, caraterizamos de progresso, de globalização, de cosmopolitismo; e que, irremediavelmente, consigo também arrastam elevados malefícios civilizacionais, culturais e sociais.
Vejamos um exemplo concreto e bem à nossa mão: a nossa augusta, dos
Arcebispos, barroca e bimilenar cidade de Braga; pois, numa visão simples e rápida do seu enorme crescimento se pode recolher uma apreciação fotográfica das suas últimas seis décadas, sob o governo do Partido Socialista.
E sei bem do que falo, porque vivo em Braga há aproximadamente setenta anos; e, assim, pude assistir diariamente à sua evidente e enorme transformação, umas vezes para melhor, outras vezes para pior.
Lembro-me ainda solidamente bem da paisagem humana, social e cultural de uma cidade onde o transporte elétrico, ou seja o elétrico, cumpria a sua carreira do S. João da Ponte ao Monte d'Arcos e da estação do caminho-de-ferro, à saída de Maximinos, atravessando a cidade de poente a nascente, a caminho do Bom Jesus do Monte; e, assim, como o estacionamento automóvel era autorizado na avenida Central, quem quisesse tomar café nos estabelecimentos da zona podia fazê-lo sem ter de ir a pé ou ainda percorrer toda a avenida Marechal Gomes da Costa, atual avenida da
Liberdade, da Arcada ao S. João da Ponte ou na estação de camionagem, existente no que hoje é o Centro Comercial de Santa Cruz, apanhar transportes para se deslocar para aldeias, vilas e cidades exteriores a Braga.
Depois, os cafés eram locais de tertúlia, de namoro, de estudo, leitura de jornais e devaneios sentimentais; e, então, era comum ouvir-se os habitantes de S. Vítor, da Cónega ou de Maximinos, aos fins-de-semana, dizerem com imenso gosto: vamos lanchar à cidade.
Este era, pois, um tempo em que Braga se considerava como uma cidade provinciana, comezinha, caseira, solidária e maneirinha; e onde, sem dúvida, se podia afirmar que era bom viver em Braga com seus amplos e lavados horizontes e deliciosas e verdes paisagens, o seu bairrismo, a sua franqueza, a sua solidariedade, a sua brácara idiossincrasia.
Agora, os que como eu conheceram e viveram a cidade desses tempos podem afirmar categoricamente que ela cresceu muito, até demais, mas se desenvolveu pouco ou até de menos; olhem com olhos de ver à vossa volta e ao longe e sem paixões políticas ou partidarites agudas, e concluam se esta é ou não a verdade, pura e dura que nos leva a duvidar se, na verdade, hoje é mesmo bom viver em Braga como nos querem fazer crer abundantemente.
Então, até de hoje a oito.