Celebra-se, hoje, dia 3 de dezembro, a Memória Litúrgica de S. Francisco Xavier1, “o Apóstolo do Oriente”. Nasceu a 7 de abril de 1506, no Castelo de Xavier, perto de Navarra (Espanha), num tempo de guerras constantes e no seio de uma família de militares. Não quis seguir essa carreira e, ainda jovem, no fim do verão de 1525, foi estudar para Paris, onde conheceu o professor Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus. Em 1533, fez-se seu discípulo, vindo a fazer os primeiros votos no dia 15 de agosto do ano seguinte. Entretanto, seguiu para Roma, acompanhando Inácio de Loyola no governo da Companhia de Jesus.
Desejando D. João III, rei de Portugal, enviar para os territórios recém-conquistados da Índia, em missão, alguns Padres Jesuítas, a escolha recaiu sobre Simão Rodrigues2 e Nicolau Bobadilha. Este ficou doente e, então, Francisco Xavier é escolhido para seu substituto. Chegaram a Lisboa em 1540 e, a 7 de abril do ano seguinte, Francisco Xavier, Francisco de Mansila e Paulo Camarate partiram para a Índia, onde aportaram a 6 de maio de 1542. Durante cinco meses, em Goa, capital da Índia Portuguesa, Francisco Xavier dedicou-se à pregação, à confissão, à visita aos doentes, à administração do batismo e à catequese. Consta mesmo que batizava de forma continuada e percorria as ruas, com uma campainha, chamando as crianças para a doutrina.
Depois disso, percorreu toda a Índia, bem como o Ceilão (atual Sri Lanka), Malaca, Indonésia e boa parte do Japão, onde desembarcou em 15 de agosto de 15493. Ao longo de dez anos e sete meses, desenvolveu aí tantos e tais trabalhos missionários que lhe mereceram o título de “Apóstolo do Oriente” e o tornaram no maior evangelizador da história do cristianismo, logo a seguir ao Apóstolo Paulo.
Faleceu na madrugada de 3 de dezembro de 1552, com 46 anos de idade, na ilha de Sanchoão (Sangchuan, em mandarim), às portas da China, quando se preparava para percorrer esse grande império e aí anunciar o evangelho. O seu corpo foi posteriormente levado para Goa, no dia 2 de dezembro de 1637. Colocado na Basílica do Bom Jesus, numa caixa de vidro e prata, é venerado tanto por católicos como por hindus. Um dos braços, porém, encontra-se em Roma, na Igreja de Jesus (Chiesa del Gesù), a Igreja mãe da Companhia de Jesus, e um osso do seu úmero direito foi levado para Macau, onde é mantido num relicário de prata, na Igreja de S. José.
Beatificado pelo Papa Paulo V, a 25 de outubro de 1619, Francisco Xavier foi canonizado por Gregório XV, a 12 de março de 1622, juntamente com Inácio de Loyola. Em 1749, Bento XIV declarou-o patrono de todas as missões do Oriente e já no século XX, em 1909, Pio X escolheu-o para patrono da Congregação e da Obra da Propagação da Fé. Na mesma carta apostólica (Apostolicorum in Missionibus) em que declarou Santa Teresa de Lisieux4 como padroeira das missões católicas, Pio XI atribuiu a Francisco Xavier a designação de “Padroeiro das missões do Oriente”. Por último, em 1952, o Papa Pio XII proclamou-o “Padroeiro do Turismo”, destacando o turismo como uma oportunidade de enriquecimento cultural e espiritual, tendo em conta que promove o encontro entre povos e culturas.
Há duas linhas de forças que, entre outras, se destacam da vida e obra de S. Francisco Xavier: a paixão por Jesus Cristo5 e pelo evangelho, que o fez abandonar uma provável carreira académica para se tornar um missionário itinerante, devorado pela vontade de levar o evangelho aos confins do mundo; a ideia de que a salvação se destina a todos os povos, independentemente da sua raça ou condição social. Este missionário contribuiu, em muito, para a globalização da mensagem cristã, introduzindo o cristianismo na Ásia e potenciando a sua disseminação no Oriente. É por isso que a sua figura continua a ser reverenciada e admirada em várias partes do mundo.
Celebrar a sua Memória Litúrgica soa a rebate de consciência para quem tem hoje uma missão idêntica à sua: com tantos meios, ficamos tão perto, ao passo que ele, sem esses meios, foi muito longe. Autocentrados e em registo autorreferencial, por vezes, nem nos damos conta de que a obra é de Deus e não nossa. Impõe-se, por isso, dar espaço à ação de Deus para que a mensagem do evangelho chegue mais fundo e mais longe, como aconteceu com a vida e obra de S. Francisco Xavier.
1O seu nome completo era Francisco de Jasso Azpillicueta Atendo y Aznáres.
2Simão Rodrigues acabou por não ir para a Índia. Permaneceu na Europa para liderar e consolidar as missões jesuítas em Portugal e em outras partes do continente.
3As viagens que, para o efeito, empreendeu correspondem a três voltas à terra.
4Vulgarmente conhecida como Teresinha do Menino Jesus.
5A propósito, ele afirma que “a ausência da cruz é a ausência da vida”. E acrescenta que “o cristão prefere mais a cruz do que o repouso”.