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As histórias que eles nos contam!

O Orçamento para 2025 está fechado e aprovado, depois de uma novela escrita a várias mãos. Foram vários os rascunhos conhecidos, embora possam ter existido ou existam ainda outros que não conhecemos. As novelas podem até ser inspiradas em histórias reais, mas são sempre ficção. Como a que se criou foi escrita por vários actores, fica mais difícil perceber o fio condutor. São várias as versões e todas ao jeito de quem as interpreta. Cada um puxa pelos seus argumentos, havendo quem se intitule o autor principal, sabendo que não foi o único, mas que não se responsabiliza pelo contributo do outro. Alguns dizem que a história já não acabará com crise, mas não tenho essa certeza. Os portugueses não podem ficar agarrados ao ecrã convencidos muito no que dizem as revistas sociais. Muitos já perceberam que o final pode não ser como leram. A história pode não acontecer tal como tem sido a narrativa predominante. Tudo pode mudar mais tarde. Nenhuma novela é perfeita, sobretudo quando há vários intervenientes a tentarem vingar a sua perspectiva pessoal.


 

Os governos são ágeis em criar a sua narrativa e muitas vezes conseguem audiência e adesão para os objectivos que definem e a metas que vão conseguindo. Alguns conseguem mesmo convencer o eleitorado com promessas e até com anúncios de promessas. A adesão ao discurso pode aumentar quando os números oficiais confirmam a narrativa. As estatísticas dos organismos oficiais especializados são normalmente credíveis por não dependerem de interesses políticos e, quando divulgadas, confirmam ou negam a narrativa dos governantes. Mas, enquanto não existem, os serviços de assessoria dos gabinetes ministeriais vão fornecendo números para que os governantes se apoiem na apresentação de resultados, que às vezes não passam de mera propaganda, e na luta política. A tentação em agradar aos governantes pode levar à construção de uma ficção que pode favorecer ou colocar em causa estes últimos. Parece ter sido este o caso dos números que vários ministros e o próprio primeiro-ministro utilizaram nos fóruns em que cada um participou com o interesse de fazer alinhar os resultados com as promessas feitas. Pelo menos três atiradores com ar de terem boa pontaria vieram a confirmar que, afinal, não o eram e que atiraram muito fora do alvo. Foi iniciada a caça aos responsáveis, no entanto, ainda que sejam encontrados, as consequências não deixarão de acontecer ao nível da imagem e credibilidade do governo. A história que nos contaram, é já certo e sabido, não era verdadeira. Se os números podem ser mais objectivos do que qualquer oratória, vão perder essa força com o actual governo, ainda mais por terem sido usados de forma errórea por dois ministros e o chefe do Executivo. Vai ser difícil, a partir de agora, que os próximos números, seja em que área for, sejam assimilados como bons e convincentes nos anúncios que vierem a seguir.


 

As histórias que nos contam nem sempre são reais. Muitas não passam de ficção. Em política, isso é muito frequente. O melhor é que as olhemos com maior atenção, seja na Educação, na Administração Interna, na Saúde e em todas as outras áreas da acção governativa. Infelizmente, nem sempre o fazemos e, por isso, nos enganamos, tantas vezes, nas decisões que tomamos. O país é mesmo seguro? Tem sido feito tudo pela saúde dos portugueses? As histórias que nos contam!

Luís Martins

Luís Martins

3 dezembro 2024