Não, esta não é uma data qualquer! É a celebração do dia em que Portugal se livrou dos 60 anos de domínio espanhol, voltando a ser independente. Graças a 40 conjurados determinados e corajosos (hoje, pouco valorizados) que a 1 de dezembro de 1640 levaram a cabo a restauração da soberania portuguesa. Tendo, para o efeito, entrado no Paço Real e matado o Secretário de Estado, Miguel de Vasconcelos, (um traidor à laia dos de agora) e atirado não só o corpo dele pela janela fora, como aprisionado, a sua cúmplice Duquesa de Mântua, prima de Filipe IV de Espanha e III de Portugal. Correndo, assim, com o domínio da dinastia filipina espanhola do nosso país, ao que se julga, ad eternam.
Ato de bravura esse – o de sacudir os usurpadores do trono português – executado em, apenas, uma hora. Tendo sido, de imediato, aclamado D. João, Duque de Bragança, rei D. João IV de Portugal. Tarefa que, segundo nos relata a História, foi muito facilitada pela conjuntura conflitual em que se envolvera a Espanha em várias frentes. A começar pela revolta da Catalunha, que os castelhanos se apressaram a dominar, seguida do seu envolvimento na guerra dos 30 anos que travou com a poderosa França do, então, Cardeal Richelieu.
Daí que Castela, sem tempo para respirar, fosse deixando o caso português em stand-by, tornando tudo mais fácil. Isto, graças a um Primeiro-ministro competente, o Conde de Castelo Melhor, um homem capacitado para celebrar acordos. Tendo conseguido não só a colaboração de Richelieu, como a proteção do Lord Oliver Cromwell, de Inglaterra, por este governada. O que viria a resultar numa oportunidade suprema para a nossa Pátria reestruturar o seu exército e as suas defesas em caso de hipotéticos domínios futuros.
O certo é que, após 20 anos de marasmo na intervenção espanhola por cá, devido à incapacidade em gerir militarmente as crises, Espanha foi-se pondo a jeito para o que aí vinha. Desta feita, logo que surgiu a Batalha da Linhas de Elvas, a 14 de Janeiro de 1659, os portugueses, sob o comando de D. Sancho Manuel e do Marquês de Marialva obtiveram uma vitória estrondosa. A que se lhe seguiu a do Ameixial, Estremoz, a 8 de janeiro de 1663, que as nossas hostes levaram de vencida a espanholada. Não sem, a 7 de julho de 1665, a dupla Schoenberg e Marialva levarem de vencida o inimigo em Montes Claros, nas imediações de Borba.
Tudo isto para dizer que fomos de Espanha, mas nunca espanhóis. Ou seja, não só não aceitamos sermos dominados por eles, como lutamos arduamente para recuperar a soberania portuguesa. E nos dias que correrem, seria assim? Bem, a julgar pela indiferença sobre Olivença e as nossa epopeias marítimas, duvido que fosse. Há, na mão de alguns dos nossos atuais historiadores, uma espécie de corretor ideológico que ora apaga os relatos históricos, ora os redige segundo o interesse partidário de cada um.
Com efeito, o patriotismo que vemos a circular por aí, em nada se compara ao dos nossos antepassados. Vai sendo, sobretudo, o do futebol aquele em que os lusitanos mais se esganiçam a entoar o Hino e a esbracejar, como doidos, para que os milionários jogadores da seleção nacional vençam as competições. O que me faz pensar ser o dia da Restauração uma mera data para uns quantos e que o da Revolução dos Cravos deve prevalecer sobre todas as demais.
Não foi por acaso que em tempo de cortes impostos aos nossos feriados pela troika, logo foi decepado o alusivo ao 1.º de Dezembro de 1640. Erro crasso corrigido, talvez como refutação à onda antipatriótica que se espraia por aí. Quando sem esse magistral golpe dos conjurados patriotas não poderíamos, nos dias de hoje, comemorar quaisquer outras datas mais recentes nem, diga-se, seríamos o país independente que somos hoje. Daí, ter achado oportuno lembrar aqui – em dia desse inolvidável feito histórico – os acontecimentos que estiveram na génese da devolução da independência usurpada à Pátria Lusitana.