A cada passo, em tertúlias ou em conversas fugazes, tenho registado a preocupação de muitos cidadãos, ligados militantemente ou apenas por simpatia aos partidos do arco do poder, que o aparecimento de candidaturas independentes à Câmara Municipal de Braga em particular, é um sinal de fraqueza e que as formações partidárias deveriam fazer um esforço para acarinhar nas suas listas, os homens e mulheres que afirmam a sua independência. Isso já aconteceu nas últimas eleições com ambos os partidos a incorporarem nas suas fileiras figuras com este estatuto. Para que se perceba o que está em causa, nas últimas eleições autárquicas, realizadas em 2021, 19 municípios portugueses foram conquistados por figuras da sociedade civil, mais três do que em 2017. O número é impressionante se contabilizarmos os eleitos nas Juntas de Freguesia: 409. Destes factos, resultam algumas conclusões: uma tendência crescente para o aparecimento de candidaturas independentes em todo o país e a falência progressiva do modelo de governação dos partidos que afasta muitos dos militantes e por outro lado uma lógica divisionista intrapartidária incapaz de resolver as diferenças. Perante esta realidade, é de esperar que cá, como no resto do país, apareçam e cresçam, não só no número de proposituras, como candidaturas vencedoras. Por outro lado, tem havido uma tendência crescente para que os partidos procurem, fora dos seus quadros, personalidades que pelo seu percurso público e profissional, acabam por ser uma tentação relevante na procura da melhor solução ganhadora. Acho esta situação tão natural, que fico preocupado quando leio que esta questão possa ser encarada como contranatura por militantes/comentadores dos dois partidos sobre a possibilidade de surgirem independentes a encabeçar listas partidárias à Câmara Municipal de Braga. Aconteceu no decurso do debate do programa Trio de Quatro da DMTV. Interrogo-me: afinal onde está o problema? Não é essa a função de um partido? Será que um cidadão não militante tem piores qualidades que outro que tem um cartão? Quando não há consenso interno na escolha de um(a) militante a quem se recorre? Esta nem é para mim a principal questão. O aparecimento de personalidades com um perfil equidistante, capaz e com visão sobre o futuro de um município tem hoje tanto valor ou mais de um qualquer militante seja de que partido for. O que importa é o que a candidatura preconiza, as políticas que pretende implementar, o valor acrescentado que traz consigo. Escrevi neste mesmo espaço, há pouco tempo, que a maturidade da sociedade civil em Braga é hoje uma realidade que permite almejar um destino diferente nesta lógica de formação de candidaturas aos principais órgãos autárquicos. Não vejo aqui nenhum problema, pelo contrário, vejo-o como um desafio saudável em Democracia e se quiserem uma chamada de atenção aos partidos de que devem refletir sobre o modo como atuam e como interagem com a sociedade civil. Quando um(a) cidadão(ã) se propõe a liderar uma candidatura, com aval ou sem aval partidário, já houve um caminho percorrido de maturação e de verificação das condições políticas a um eventual apoio do partido A ou B. Quando isso não acontece e a vontade de avançar é muita, tudo fica mais fácil para um esclarecimento no lugar próprio que são as urnas. Não temos, infelizmente, esse hábito enraizado em Portugal, mas não há melhor exercício de cidadania política ativa do que constatar a vontade de cidadãos em avançar com um propósito que em Democracia é nobre e merece ser saudado e não sacrificado. Os partidos têm, a meu ver, de arregaçar as mangas e tal como tenho dito e repetido, pensarem sobre o seu modelo de governação para cativarem mais simpatizantes e militantes, abrindo-se à sociedade civil, cativando aqueles que se propõem servir e não servir-se. O que se vai passar daqui a 10 meses sensivelmente, quero crer, será um saudável exercício em Democracia. Tudo o resto, como compreendem, faz parte do diálogo e do debate político.