Os critérios de Jesus são simplesmente arrasadores para os padrões que dominam o nosso pensar e o nosso agir.
Segundo Ele, um mais um não é necessariamente igual a dois: «Eu e o Pai somos um só» (Jo 10, 30). Portanto, um mais um é sempre igual a um. Ou seja, a diferença não contende com a unidade; pelo contrário, deve promovê-la.
Para nós, os primeiros são obviamente os primeiros. E os últimos são inevitavelmente os últimos.
Pelo contrário, para Jesus, «muitos dos primeiros serão os últimos, e muitos dos últimos serão os primeiros» (Mt 19, 30).
E o certo é que, na parábola dos trabalhadores da vinha, os últimos a chegar recebem o mesmo que os primeiros a vir (cf. Mt 20, 9).
Dir-se-á que é injusto. Mas em Cristo a bondade vai além da justiça. Mais. A bondade é o coração da justiça. Sem bondade, não há justiça.
A predilecção de Jesus pelos últimos – e pelos pequenos – é não só surpreendente como modelar. É com eles que Ele Se identifica (cf. Mt 25, 40).
Os nossos (habitualmente) preteridos são os Seus preferidos. Pelo que, se não nos tornarmos humildes, não teremos entrada no Reino dos Céus (cf. Mt 18, 3).
Neste sentido, as dádivas por Ele mais valorizadas não são as de quem deposita grandes quantias.
É que uma coisa é dar muito; outra coisa – bem diferente – é dar tudo.
No Templo, os ricos deixaram muitas moedas (cf. Mc 12, 41). Era, porém, do que lhes sobrava (cf. Mc 12, 44).
Quem deu mais foi uma pobre viúva. Deitando duas desprezíveis moedas, deu tudo. Essas duas moedas eram quanto ela possuía para viver (cf. Mc 12, 44).
Decididamente, Jesus não vê com os nossos olhos; nós é que deveríamos ver com os olhos de Jesus, «plagiando» a Sua conduta.
Para que, pois, tantas disputas pelos primeiros lugares, pelas primeiras páginas, pelos galardões, pelas honrarias?
A maior – a bem dizer, a única – honra a que devemos aspirar é a de sermos…«inúteis».
E em que consiste tal «honra»? «Em fazermos tudo o que nos foi mandado fazer» (Lc 17, 10).
Não é isso, no fundo, o que se espera de um «servo»? Por quem nos tomamos nós, afinal?
Senhor – e Mestre – é Jesus (cf. Jo 13, 13-14). E é como Senhor – e Mestre – que lava os pés aos Seus discípulos (cf. Jo 13, 5), instando-os a fazerem o mesmo (cf. Jo 13, 15).
Ele próprio tornou bem claro que veio ao mundo não para ser servido, mas para servir (cf. Mt 20, 28).
Assim sendo, a suprema realização de um servidor não há-de ser…servir? Eis o que falta, eis o que urge. O maior drama é que, por vezes, nem «inúteis» conseguimos ser!