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O Adamastor da IA

 

 

Que é a inteligência artificial? Não sei, nem ainda encontrei alguém que me dissesse o que era, onde atua ou substitui a inteligência natural. Que benefícios ou malefícios traz para a sociedade em que vivemos e soubemos construir? Não sei nada; é como erva em deserto. Para mim é o Adamastor dos nossos tempos. Diziam os marinheiros do Infante D. Henrique que o cabo das Tormentas era um local onde havia um monstro que afundava as caravelas. E isto espalhou-se pelos convés das embarcações e atemorizou os marinheiros. É este sentimento de medo que me domina quando penso na IA. Será que esta nova inteligência vai provocar discriminação para aqueles que não têm inteligência natural para a coexistir com a inteligência artificial? As suas especialidades profissionais, atuais, como vão ser? Será o Adamastor onde a pessoa mediana não encontra lugar para poder sobreviver a tais requisitos? Será um benefício tecnológico para milhões de humanos? E a dúvida paira em nós como nuvem negra que pode descarregar não um aguaceiro, mas uma chuvada que se transforma em inundação. Há quem diga que esta IA supera qualquer dificuldade e, por exemplo, no campo da investigação bibliográfica acaba com a procura dos autores, implicando diretamente com as teses de doutoramento. Duvido, porque não sei. Julgo que são mais que horas que expliquem como é. A aprendizagem vai prescindir dos professores porque o saber ficará reduzido à consulta do programa da IA tecnológica? Ou só se aplica para fins específicos? Mas quem tem mão na generalização da sua aplicação? E como deve ser aplicada, como, a quem e como? Nesta “santa ignorância” que me avassala, até consigo louvá-la porque a atração do futuro tem um expressivo poder sobre mim. Os artesanatos, quando apareceu a revolução mecanização industrial, ficaram em situação residual. A verdade é que eles passaram de gente do seu tempo para gente do passado. A máquina produzia mais em menos tempo. Será que estaremos no limiar desta semelhança? Um amigo meu, formador na área da educação, dizia-me isto: fiz uma investigação aturada sobre determinados factos quando me disseram que no computador na aplicação X tinha textos já elaborados sobre o assunto. E era verdade, tinha um texto já com citações fundamentadas, com teorias novas e sugestões para pesquisar. Verifiquei, disse-me ele, que a minha função de formador já não prestava para coisa nenhuma; passei de imprescindível a dispensável. Vamos repudiar o futuro para preservar o presente? Julgo que seria um erro como aqueles que teimaram fazer de Portugal um país rural quando já existiam países industrializados. Cada futuro tem o seu Adamastor.



 

 

Paulo Fafe

Paulo Fafe

25 novembro 2024