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ELE HÁ POR AÍ CADA “PRÓXIMO”....

 


 

Era uma pessoa bastante primária nas suas atitudes, embora, por dentro, o seu coração fosse generoso.


 

Enervava-se facilmente, mas também com rapidez apagava as mágoas que sentia perante alguém que o incomodava,


 

Numa reunião de amigos, que festejavam algum evento comum à vida de todos, começou uma discussão sobre o dever que tinha cada ser humano de atender às necessidades daqueles que passassem por dificuldades, certamente na medida das possibilidades de cada um.


 

Alguém lembrou que cada ser humano era nosso próximo, independentemente da sua condição social ou cor de pele. Havia concordância sobre este assunto. No entanto, um dos presentes, com certa mágoa, observou: “Tudo isso é muito bonito, mas há por aí cada “próximo”...”


 

Todos se calaram ao ouvir tal observação. Efectivamente, a frase suscitou um silêncio prolongado. E esta pausa na troca de palavras parecia não ter uma interrupção possível, ou levantar um problema irresolúvel a todos os presentes.


 

Finalmente, um dos interlocutores, comentou: “Seja como for, continua a ser nosso próximo...” “Tenho dúvidas”, observou um dos outros...


 

E o silêncio voltou a cobrir aquela pequena assembleia... Por fim, alguém quebrou o mutismo instalado. “Todo o ser humano é nosso próximo. Como eu, tem direitos e deveres. Outra coisa é que se esqueça dos segundos e só aja como senhor absoluto e único dos primeiros. Ou seja, impõe os seus direitos, mas nega-se a cumprir os seus deveres. Nessa altura, as leis humanas devem agir com justiça e, se for o caso, punir quem assim procede...”


 

Todos concordaram. Na verdade, a sociedade em que vivemos sabe e até conta que o procedimento de alguém que não respeita as regras de boa convivência deve ser devidamente penalizado. E, como um dos presentes assinalou, cada ser humano deve ter consciência de que vive no meio de outros seus semelhantes, que têm o direito de ser respeitados e não maltratados. As leis que uma sociedade cria visam sempre dar a cada um dos seus membros a possibilidade de conviverem pacifica e proveitosamente, garantindo-lhes a sua condição de seres livres e inteligentes. Decerto que estas garantias só são benéficas quando respeitadas. Por isso, pode haver situações em que a conduta de alguém mereça uma punição justa e também que sirva para o infractor corrigir-se e enveredar por outros caminhos mais humanos.


 

Esta consideração abriu novamente um largo tempo de silêncio. Todos, com isso, queriam certamente manifestar a sua concordância com o que acabavam de ouvir. Em todo o caso, a mesma pessoa que se tinha manifestado com certo cepticismo, repetiu: “Tudo isso é muito bonito, mas há por aí cada “próximo”...Não quero com isto dizer que não esteja de acordo com as considerações que aqui se fizeram...”


 


 


 

 


 

Pe. Rui Rosas da Silva

Pe. Rui Rosas da Silva

24 novembro 2024