twitter

O compadre certo no lugar errado

Costuma dizer-se que, em termos de eficiência e operacionalidade profissionais, devemos ter o homem certo no lugar certo; porém, na escolha de muitos candidatos para o desempenho de funções, sejam elas quais forem, pode-se afirmar, e sem rebuços, que a realidade, em diferentes setores da vida nacional, é, tão-só, o compadre certo no lugar errado; e, assim, o barco que é este nosso pobre e desprezado país, muitas vezes, anda à deriva e tende a afundar-se não encontrando o tempo e o jeito de arribar a bom e seguro porto.

Pois é, e pouco ou nada há a fazer, a não ser a denúncia pública e o esclarecimento do cidadão menos atento e consciente, quando, mormente, a coisa se inicia um pouco assim: primeiro instala-se o cabecilha, o chefe, que, em muitos casos até é competente e sobriozinho; depois, (depois é que são elas) segue-se a camarilha, uns atrás dos outros, como bando de moscas a voar para o monturo (só que aquilo, o monturo é bem cheiroso e muito produtivo).

E, então, é a partir deste momento que as instituições não funcionam ou funcionam mal, para um só lado, e, então, a impunidade alastra, a incompetência campeia, a corrupção faz lei (basta lermos os jornais, estarmos atentos à comunicação audiovisual ou visitar as redes sociais); e, depressa, pasmamos com os maus desempenhos, as incompetências, as trafulhices, o compadrio, o arranjismo e o fulanismo.

Ora, perante esta imprópria, patética e triste realidade o cidadão anónimo, zonzo e banzado de todo, começa a interrogar-se, contribuinte e eleitor que é, sobre que democracia é esta que permite e, até, premeia, à tripa forra, tais arbitrariedades, desvios, inconsequências e libertinagens; porque, na sua essência e ação, se ignora que a democracia se rege pelas regras de mais igualdade, de mais justiça social, da defesa do interesse público e das necessárias afirmações de estadismo.

Não, assim não; pois já vamos com 50 anos de vida democrática; e em termos de organização social justa e eficiente, solidária e menos desigual continuamos a léguas, senão a lustros, de usufruirmos de tais princípios e valores, afastando-nos cada vez mais de outros países menos civilizados do que nós; e, por isso, tenho aqui pugnado por uma urgente e radical reorganização e reestruturação da vida empresarial e social que restitua aos cidadãos a necessária confiança nas instituições e nos homens que as representam e dirigem para que se alcance a desejada e merecida organização, eficiência e justiça social.

Só que, a meu ver, a tão desejada e necessária mudança vai tardando e até demais; e penso que, enquanto os eleitores virarem costas à situação e se absterem de ir às urnas e, assim, pondo de lado o propósito firme de afastarem os corruptos, os oportunistas, os incompetentes, os paus-mandados e os desonestos, a democracia não deixa de se estiolar e prostituir cada vez mais e com ela a ilusão de todo o povo em se alcançar um futuro risonho, seguro e melhor para si e para os seus os filhos e netos.


 

Depois é preciso que as pessoas sintam, não basta que saibam, que um dos valores mais fortes da vida democrática, para além da liberdade e da justiça social, é a luta contra as desigualdades, a miséria e a fome que tanto por aí grassam; e, tristemente, se vê por aí tanto quem e com grandes responsabilidades públicas, convicto prega estas verdades e tão pouco ou nada as pratica e põe em prática a favor dos demais.

E, então, a nível de variadas ações políticas praticadas e promovidas por certos partidos e agrupamentos que deviam ser mentores e animadores da prática destes conceitos, é uma autêntica desilusão e fracasso, porque eles se preocupam mais com a conquista do poder pelo poder, a ideologização e a prática revolucionária; e, assim, sonegam e passam ao lado da grande verdade de que o que falta e se exige é o homem certo no lugar certo, seja a que preço e nível for, e não o compadre certo no lugar errado.

Então, até de hoje a oito.

Dinis Salgado

Dinis Salgado

20 novembro 2024