Os dias de “Fiéis defuntos” e de “Todos os Santos”). Quando os meus pais eram vivos, anos houve (poucos) em que, estando outros familiares presentes nos cemitérios, eu me escapava para ver as multidões que nesses dias acorriam a típicas feiras anuais, em Chaves, Mangualde, Sernancelhe, etc.. Hoje já é raríssimo faltar, aliás visitando um cemitério no Porto e dois em Olivª de Azeméis. E este ano, com sol, consegui chegar a tempo a todos (e falar com locais ou parentes afastados).
Se viesse hoje ao Mundo, Gabriele Malagrida…). Como saberão alguns (poucos…), o notável padre e missionário italiano Malagrida (mandado queimar vivo pelo futuro marquês de Pombal) interpretou o terramoto, maremoto e incêndio que destruíram Lisboa no dia de “Todos os Santos” de 1755 (por ocorrer naquela data), como um castigo divino pelos pecados dos lisboetas. Decerto não teria sido então tão radical, se pudesse comparar com o Portugal (e o Mundo) de 2024.
Uma tarefa adicional, que me propus este ano). Eu nisso, sou como os japoneses e outros povos, tenho uma espécie de “culto” pela memória dos antepassados e parentes falecidos. Felizmente, conservei todo o material fotográfico ou narrativo acerca de quem eles foram, entre que datas viveram e, às vezes, o que é que por cá andaram a fazer. Sobretudo do lado paterno, em que a maior parte da informação existente recua até finais do séc. XVIII. Havia porém, uma secção, uma conexão a deslindar, a qual decidi investigar agora; trata-se do nosso parentesco (paterno), de sangue, com a família, bem ilustre, dos Luiz Gomes, normalmente conotada com a freg. de S. Martinho da Gândara (e não, com Santiago), em Azeméis. Já agora, Azeméis quer dizer “comerciantes condutores de azémolas, i. e., de burros, asnos”; dado que a actual pequena cidade fica no cruzamento da antiga via romana entre Lisboa, Gaia, Braga, Astorga (mais tarde, “estrada real”) e os caminhos que subiam para a Beira Alta, por V. de Cambra, S. Pedro do Sul e Viseu (que são o cenário do “Malhadinhas”, a única obra-prima “legível” do famoso Aquilino Ribeiro). É a terra donde provém o histórico arcebispo D. Caetano Brandão, o guarda-redes Rui Correia, o Xadas, cujas vidas também passaram por Braga.
Quem foram os 3 Luiz Gomes?). O pai, o prof. António L. Gomes viveu 98 anos (1863-1961) e passou parte da infância no Rio Grande do Sul. E foi min. do Fomento no 1.º Gov. da República Portuguesa (1910), embaixador no Brasil e reitor da Univ. de Coimbra. Teve, de uma brasileira originária de Bragança, 2 filhos de tendências políticas opostas. Um, foi o dr. António L. G. (filho, 1898-1981), que foi homem da confiança de Salazar, director da Fazenda Pública, secret. de Estado do Tesouro (as notas eram assinadas por ele) e director da Fundação da Casa de Bragança. O outro foi Ruy L. Gomes (1905-84), próximo do P. Comunista, pré-candidato a pres. da República em 1952, exilado a seguir e (sendo um dos maiores matemáticos lusos do séc. XX), prof. nas universidades de Bahia Blanca (Argentina) e do Recife. Pôde regressar em 1974 e ficou reitor da Universidade do Porto.
As visitas à rua da Restauração). Quando eu era pequeno lembro-me de várias vezes ir tomar chá a casa das 2 irmãs do prof. Ruy (Ermengarda e Alda), no alto da citada rua, levado pela minha mãe. E todos se tratavam por primos. Só que todos foram falecendo e deixou de haver memória oral, pessoal.
Os cadernos da minha bisavó). Mª das Dores Ferreira de Castro (n. 1881) foi por largas décadas a administradora eficaz de uma quinta em Santiago (OAZ), mas que (ao contrário do que era uso no seu tempo) completou os estudos secundários num colégio do Porto; onde aliás se tornou amiga íntima de uma filha de Guerra Junqueiro. Morreu com 87 anos e pelos seus 65, entreteve-se a escrever algumas memórias familiares relativas ao séc. XIX, na parte que ficou em branco das muitas folhas de um antigo caderno de contas, elaborado por antepassados e parentes nossos que tinham emigrado para a Bahia (o pai dela) e sobretudo para o Rio de Janeiro (caderno onde aliás consta, colada, uma carta datada de 1828!). E sob sua direcção, o seu único neto, o metódico matemático que foi meu pai, passou ao papel as árvores genealógicas das diversas “casas” agrícolas donde todos provinham: Mouta, Salgueiro, Figueiredo, Manta, Faria, Pica, Ossela, Outiz em Famalicão, etc.. (CONTINUA)