Com o coração não se consegue apenas ver bem; é também com o coração que conseguiremos pensar correctamente.
Como nos lembra o Papa Francisco na sua mais recente encíclica, além do sentimento, o pensamento pertence igualmente ao coração.
O coração não é prioritariamente um órgão do corpo; o coração sinaliza o centro vital do homem.
Deste modo, uma sociedade dominada pelo «narcisismo e pela autorreferencialidade será uma sociedade “anti-coração”».
Nos tempos que correm, parece que estamos a perder o coração.
Sucede que, sem coração, o espírito torna-se «frio e vazio e o corpo intoxica-se de indolência e sensualidade “animalesca”».
Importa lembrar que «é o coração que origina a proximidade; é pelo coração que me encontro junto dos outros e que os outros estão igualmente junto de mim».
Para tal, é urgente perceber que «só o coração pode acolher, dar refúgio».
Quando aprendemos não unicamente com o intelecto, mas com o coração, «conhecemos melhor, mais plenamente».
O Santo Padre evoca Martin Heidegger, para quem a Filosofia «não começa com um conceito ou com uma certeza, mas com uma comoção».
É a comoção que, citando Byung-Chul Han, «dá o primeiro pensar e perguntar. Pelo que a Filosofia ocorre sempre numa tonalidade afectiva fundamental».
Curiosamente, já Xavier Zubiri vertera que, antes de mais, «pensar é comover-se».
Não espanta, assim, que o Sumo Pontífice realce que «só a partir do coração é que as nossas comunidades serão capazes de unir e pacificar» para que «o Espírito nos possa guiar numa rede de irmãos».
A pacificação e a paz são, antes de mais, «uma tarefa do coração».
Tendo em conta que o Coração de Jesus «é êxtase, saída, dom e encontro», é n’Ele que «seremos capazes de nos relacionar uns com os outros de forma saudável e feliz».
Salta, portanto, à vista que, para ajudar a mudar a humanidade, temos de «reformar o nosso coração».
Vincar a centralidade do coração – à luz do Coração superlativamente dadivoso de Jesus – significa recuperar a cordialidade perdida na convivência humana.
Frente a uma frontalidade revestida de brutalidade, só uma cordialidade compassiva nos faz olhar para os outros como irmãos e amigos.
Do Coração de Jesus «continua a correr aquele rio que nunca se esgota, que não passa, que se oferece sempre de novo a quem quer amar».
É amando – e nunca armando – que se fará a revolução que falta: a revolução no e do coração!