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Toca a “inventar”

 

 

 

 

São tantos os inventos criados ao longo dos tempos pelo ser humano, que não caberia enunciar todos aqui. Pelo que me limito a citar algumas dessas relíquias vindas do passado.

Assim, o primeiro autómato concebido – digno desse nome – é o galo da Catedral de Estrasburgo, criado em França em 1534. Uma peça automática que tem a singularidade de possuir um mecanismo em que, sempre que soam as horas, a ave sai à cena, bate asas e canta três vezes. 

Mas foi no século XVIII que os autómatos tiveram a sua idade de ouro, quando os Suíços, Pierre e Henry Louis Droz, inventaram um copista que molha a caneta no tinteiro e escreve. Uma coisa do outro mundo para a maioria das pessoas, por ver algo artificial a fazer aquilo que, até ali, era apanágio do ser humano.

Com efeito, a mente humana não para. A referida dupla volta a surpreender o mundo, em 1773, em Neuchâtel, com nova criação. Um desenhador mecânico capaz de desenhar, quase na perfeição, o perfil do rei Luís XV. Um feito que lhes valeu um processo pela prática de bruxaria, algo condenável naquele tempo. Contudo, continua a mostrar, como peça de museu, os seus dotes e habilidades ao público.

Já nos tempos mais recentes foi gerado, pelo Instituto de Pesquisas de Stanford, um robot bastante aperfeiçoado a que puseram o nome de “Shaky” (significa trémulo em inglês). Que se locomove sobre rodas e circula de um lado para o outro sem chocar com os obstáculos. 

Entretanto, novas pesquisa foram feitas e novas máquinas surgiram. E é, exatamente, em Inglaterra que foi concebido o “Minitran”, da Hawker Siddeley Dynamics, que dispõe de dedos artificiais sensíveis capazes de montar – sob a orientação de um computador – peças destinadas a televisões, relógios, máquinas fotográficas, etc. 

Já para as tarefas mais complexas a mesma empresa acabaria por construir um robot à escala humana, o “versatran”, cujo braço hidráulico foi programado pata girar 360º, capaz de segurar grande números de ferramentas, materiais, etc. e colocá-las no local desejado. Assim se iniciava a era dos ‘androides’. 

Até que, em 1967, Don F, Carter, nos Estados Unidos da América (EUA), idealizou um boneco que, ao tempo, custou meio milhão de dólares, cuja função é a de treinar anestesistas na Universidade do Sul da Califórnia. Robot, esse, com 1,85m de altura e 90 kg de peso, semelhante a um ser humano, composto por carne de plástico e ossos de alumínio, capaz de reagir aos gases anestésicos. 

No entanto, Carter não se ficaria por aqui. Inventou um androide destinado aos estudantes de odontologia que sangra, diz “ai” e sacode a cabeça quando esbarra num nervo. E mais. Possui dentes removíveis que podem ser tratados e obturados, enquanto uma língua artificial dificulta os instrumentos. E, como se tal não bastasse, dotou-o de gengivas que incham perante injeção mal aplicada, respira e saliva como a finalidade de embaciar o espelho do aspirante a dentista. 

Enquanto isso, no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, desenvolveu-se no campo cibernético um robot dotado de um sistema nervoso, idêntico ao humano, com a finalidade de poder vir a ser utilizado para explorar a superfície de Marte.

Todavia, tudo isso é passado. Pois, com o grande salto quântico na Inteligência Artificial (IA) a robótica ganhou vantagem ao ponto de estarmos, atualmente, confrontados com os perigos da sua aplicação nos mais variados aspetos no mundo atual. Como no caso de poderem vir a sobrepor-se aos humanos, retirando-lhes direitos, liberdades, garantias e, até, a governação das nações, tal como foi ventilado na ‘Web Summit’, Lisboa, 2024. 

Porém, eu preferia ver a robótica, dotada de IA, a ser aplicada em Portugal em áreas carentes como as da Saúde e Justiça. Pronta não só a agilizar as consultas, exames de diagnóstico, tratamentos e cirurgias aos cidadãos, como acelerar os processos nos tribunais e julgá-los com rigor. Sobretudo, os respeitantes a crimes de usura e lesa-pátria. Por isso, toca a “inventar”. 

Narciso Mendes

Narciso Mendes

18 novembro 2024