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Ponto por ponto

 


 

 


 

Nesta democracia lusa, os cidadãos ainda não são inteiramente livres de se expressar. Pelo menos, não devem dizer tudo o que lhes vai na mente ou na alma para evitarem possíveis constrangimentos, azedumes e censuras. Há sempre amarras, interesses, rabos de palha, regras partidárias a bloquear as opiniões livres que são, muitas vezes, até sensatas e inteligentes. Então, dentro da esfera partidária é um grande sarilho para os homens que querem, se sentem e pugnam por essa liberdade individual de se expressarem. Mas, na verdade, não podem dizer tudo! Estão manietados pela ditadura da disciplina partidária. Parece ser um problema pertencer-se a um partido político. Tem que bater a bola baixa e ser submisso. 


 

1 - Os militantes de facção, mesmo os mais valiosos, têm que se submeter aos ditames dos chefes, se quiserem aspirar a ter uma carreira política. Não podem veicular opiniões pouco abonatórias à liderança ou lançar críticas a raiar o desafino da linha imposta pelos “comités centrais”. A “quebra de confiança” concretizada nas opiniões públicas livres e bem expressivas em momentos achados inapropriados quebram logo a ascensão aos lugares cimeiros de eleição ou de nomeação. Neste caso, fica-se fora da carroça por inconveniência e má figura. Por isso, é aconselhável meter a viola ao saco e dizer amém para se poder posicionar na disputada lista de espera. São estas as estratégias usadas para se subir na vida. E com um pouco de graxa isso ainda vai melhor. Caso contrário, a purga faz-se sentir de imediato e com algum estrondo. O escorraço provoca mazelas. Segue a marginalização. E depois a irrelevância. A verdade é que o militante não pode expor-se na praça pública como deseja ou como pensa. Não pode desafiar a linha ideológica seguida, mesmo que lhe assista toda a razão do mundo. Ao lado, a concorrência, sempre à espera por algum deslize dos renegados é implacável e exige, de imediato, a cabeça do prevaricador. Neste campo, não há contemplações. Ou se alinha no jogo, mesmo que o faça de forma encapotada como aconteceu com algumas figuras da praça política lusa para chegarem a deputados europeus ou se é escorraçado e atirado para o vazio das escolhas nominativas.


 

2 - Vem isto a propósito das afirmações “tontas” (?) proferidas pelo presidente da Câmara de Loures, Ricardo Leão. Num momento, achado infeliz pelo seu partido, expressou convictamente o seu ponto de vista, numa reunião da edilidade, onde se discutia as medidas a tomar para degolar o problema do banditismo verificado no seu concelho. O autarca tem toda a razão para exigir aos seus “beneficiados” dos subsídios condutas sérias e decentes. 

A tragédia que se passou nos bairros periféricos da capital, durante alguns dias, foi demasiado gravosa para um país que “gaba” a sua segurança e vende bem uma imagem de tranquilidade e de bem-estar. 


 

3 - Qual foi o pecado cometido pelo autarca de Loures? Teria sido alinhar na proposta do Chega fascista? Será que o presidente de Câmara não tem opinião própria a respeito da onda de vandalismo que se passou nos bairros sociais da Grande Lisboa? O pecado está nas afirmações proferidas e desalinhadas com as regras partidárias: “despejos das habitações municipais, sem pena nem piedade, para os inquilinos criminosos ...”. Antes, o mesmo autarca já tinha defendido que quem não tivesse a água paga e a renda paga não receberia o RSI. Esta exigência estará errada à luz da igualdade de tratamento? Quem não defende isto? Os extremistas de esquerda?

Perante tais afirmações, realistas e pertinentes, todo o partido lhe caiu em cima. Quase todo, porque há outros autarcas da Grande Lisboa que estão com ele. Estão com ele, porque conhecem e sentem bem os problemas. O comentariado da linha sinistra também se juntou ao coro dos incomodados e lhe caiu em cima. A verdade é que o autarca, acossado e maltratado, não aguentou a pressão e foi obrigado a demitir-se. da presidência da FAUL - Federação da Área Urbana de Lisboa. E o curioso desta demissão é que só aconteceu após a publicação de um artigo no jornal “Público” assinado por António Costa e por outros dois neo-socialistas, em que o habilidoso mostrou ser um político com pouco arcaboiço moral para colocar linhas vermelhas a quem quer que seja. Nem estando longe e no lugar almejado, o homem está sossegado. É caso para lhe dizer: “porque não te calas, Costa!”

Armindo Oliveira

Armindo Oliveira

17 novembro 2024