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Tempos controversos que vivemos

Vivemos tempos controversos com o estremar de posições relativamente ao uso acrítico das redes sociais; e, se olharmos à nossa volta, verificamos um apego abusado e desbragado que depressa se transformou numa autêntica dopagem.

E, então, esta dependência digital doentia e precoce atinge, inclusive, crianças muito pequenas (quatro e cinco anos) com a anuência da própria família; e este uso descontrolado e não escrutinado, mormente de smartphones e tabletes, chega a pôr em causa as relações familiares.

Pois bem, esta triste e malsã realidade está bem patente, até, em espaços públicos onde se observa núcleos familiares (pais, e filhos) absorvidos no uso das redes sociais, alheios completamente ao que se passa à sua volta e mesmo entre si; e, assim, deixam de existir interação, diálogo, convívio, inter-relações entre pais e filhos tão necessários ao crescimento e desenvolvimento harmonioso e saudável de crianças e jovens.

E, mais grave ainda, se torna, quando um estudo recente levado a cabo pela Geração Cordão conjuntamente com a APAV conclui que 93% (noventa e três por cento) dos jovens, durante a noite, acedem, se quiserem, no seu próprio quarto a ecrãs e 55% (cinquenta e cinco por cento) dos mesmos jovens afirmam que, antes de dormir, os usam; ora, esta realidade leva a que a maior parte dos jovens, quando não têm os seus telemóveis junto de si, ficam ansiosos e nervosos.

Agora, face a esta preocupante e mórbida realidade, sociólogos, psicólogos e psiquiatras vêm alertando para os graves malefícios na saúde mental, devido à utilização precoce e exagerada das redes sociais por crianças e jovens; e, sobretudo, porque o cérebro habitua-se à sobre-estimulação que elas provocam o que dificulta sobremaneira o interesse desses utilizadores por tarefas que envolvam estímulos menos imediatos e absorventes.

E, ainda, os prejuízos mais graves que acontecem no cérebro dos mais jovens, devido a esta dependência cibernética, estende-se à capacidade de decisão, atenção e de focagem, bem como à regulação emocional e ao controlo de impulsos, sejam de teor físico, sejam de teor mental; ademais, ensinam-nos os livros que só pelos 25 anos é que alcançamos a total formação e solidificação dessas capacidades fisiológicas e psicológicas.

Por isso, já começam a ser constantes as queixas e preocupações de muitos pais que esbarram com dificuldades constantes para retirar e escrutinar os telemóveis aos filhos e, inclusive, em fazerem-se obedecer no que concerne às regras decretadas para o seu uso; e situações aberrantes no seio de muitas famílias acontecem, frequentemente, quando os pais pretendem gozar uns minutos de sossego pondo nas mãos dos filhos pequenos um telemóvel ou tablete.

Pois bem, como consequência de tudo isto, o desempenho académico defrauda-se, faltam o convívio, diálogo e interação nos tempos livres escolares e a saúde mental e emocional dos pais e dos filhos sofre evidente e recriminado desgaste; e os professores começam já a pensar e a tomar medidas para combater este flagelo, proibindo o uso de telemóveis nos horários escolares e, até, nos momentos de recreação, daqui resultando um saudável e motivador ambiente escolar. 

Igualmente muitos pais aderem já a medidas de restrição e proibição mesmo das redes sociais em contexto escolar, desde que o seu uso não seja como complemento da aprendizagem, devido à perturbação que elas levam ao convívio necessário e indispensável dos alunos e bem como à melhoria efetiva da utilização dos tempos livres e dos recreios para conviver e interagir.

Pois é, torna-se urgente que as entidades responsáveis pela Educação se capacitem de que o uso não escrutinado das redes sociais arrasta graves inconvenientes e prejuízos para os alunos, quer em termos de formação pessoal, quer de desenvolvimento e relacionamento social; assim sendo, almeja-se que haja uma mobilização coletiva a favor do uso disciplinado responsável e educativo das redes sociais e contra o seu abuso indiscriminado e dopante.

Então, até de hoje a oito.

Dinis Salgado

Dinis Salgado

13 novembro 2024