Na «arca de Noé» estavam apenas oito pessoas (cf. Gén 6, 2; 7, 7). Mas foram elas que sobreviveram quando toda a humanidade desapareceu (cf. Gén 7, 21-24).
Mais. Foi com essas oito pessoas que Deus voltou a encher a terra, fazendo um mundo novo (cf. Gén 9, 7).
Por muito repugnante que nos pareça, «a salvação – como percebeu Nokter Füglister – acontece sempre “na catástrofe” e até “mediante a catástrofe”».
Quando a maioria decresce na resposta, Deus costuma suscitar um «resto pobre e humilde» (Sof 3, 12-13) como fermento de mudança.
No «dilúvio» da violência e da corrupção – a que acrescem os «dilúvios» da indiferença e da futilidade –, há quem estremeça de medo. Será que a Igreja se tornará irrelevante, restringida a um «resto»?
Sucede que, se há coisa a que nós renunciamos logo no Baptismo – assinalou Michael Antonhy Perry –, é «ao direito a ter medo».
É claro que ninguém fica empolgado quando, em muitos dias, encontra igrejas semivazias.
Dizem que não há tempo. Eis um argumento que se repete, mas que dificilmente se entende.
Tempo é o que não teremos quando partirmos deste mundo. Na morte, termina o tempo.
Até lá, impregnamos o tempo com as prioridades que estabelecemos.
Que pensaríamos de uma mãe que invocasse não ter tempo para cuidar dos filhos?
O tempo – reconhece Anselm Grün – «é dado por Deus. Assim sendo, deveríamos antes de mais escutar o que Deus nos quer dizer no tempo, para onde nos quer guiar».
O tempo «não deveria ser medido simplesmente pelo relógio; pois o tempo certo é cada momento que me é oferecido por Deus».
São poucos os que o compreendem? Não abalemos em caso algum.
Podemos, porventura, estar a caminho de uma «Igreja-arca de Noé». Vamos entrar em falência por causa disso?
Os que procuram as «arcas de Noé» dos nossos dias não se sentem perdidos nem desacompanhados.
E da «arca» também sairemos ao encontro dos que sofrem os efeitos dos vendavais diluvianos das horas que passam.
É preciso dizer a todos que também têm lugar na «arca». Que são bem-vindos e desejados.
A «arca de Noé» da nossa época (a Igreja) tem o tamanho do mundo. Todos lá cabem. E mesmo que ainda faltem muitos, é bom que ninguém se sinta à margem de uma proposta, de um convite.
Os poucos de hoje também são chamados a repovoar o mundo: com a beleza da fé, o ânimo da esperança e os laços do amor!