É verdade. O Governo "não pode andar atrás de pré-avisos de greve e a fazer reuniões de emergência", como bem diz Montenegro. Mas, se tem razão no que diz, é parcial no que não disse. É que o Governo deve prevenir os pré-avisos de greve e reunir-se com tempo com as instituições sindicais. Ninguém faz greve porque sim. Os trabalhadores e os sindicatos dão sinal da sua insatisfação e reivindicação, estou certo que com tempo para se chegar a algum consenso. O movimento começa sempre assim, com aviso, mas o Governo não age - digo-o do que temos e dos que o antecederam – prefere esperar e quando reage já não evita os efeitos indesejáveis que estes processos – democráticos, que fique claro – normalmente acarretam. Mal dos que sofrem por causa disso, nas melhores condições, e dos que partem para outra dimensão, nas situações mais extremas. Claro que, nestes casos, o Executivo nunca assume as consequências nem retira ensinamentos para o futuro. Da vez seguinte, vai proceder da mesmíssima forma. A política é tantas vezes insensível, fria, inconsequente e injusta. A culpa morre, quase sempre, solteira. Os grandes safam-se sempre bem, para mal dos pequenos, dos ofendidos e prejudicados, dos que morrem e das suas famílias. Veja-se o que se passou com o INEM. Não se culpe os profissionais. O Governo devia ter evitado que os piores efeitos se produzissem. Não se fale do investimento em recursos, humanos, técnicos e financeiros. Fale-se do que acontece ou aconteceu, assumindo-se as consequências com verdade. Que se demitam os responsáveis, se peça desculpa a quem foi atingido pelos efeitos e se procure a correcção com oportunidade. O país precisa de um Governo sério. E um Governo sério não se pode refugiar no Governo que o precedeu nem alegar que foi sempre assim ou que o que acontece no país também acontece noutras geografias. Isso é retórica cobarde. Não se deve responder ao que acontece por inacção com o que não foi conseguido nos anos anteriores. Isso é demagogia e irresponsabilidade. Mas, concordo que "o PS deveria ter um bocadinho de pudor", entre outras coisas, nas que dizem respeito ao INEM, assim dito por um governante que pretenda justificar o que falta fazer, desde que o Governo a que este pertence tenha feito alguma coisa que se veja. Doutra forma, empata em verborreia e incumprimento com quem critica.
Um Governo não devia perder tempo a criticar, antes deveria aproveitá-lo para fazer, para realizar. Um Governo que critica não executa, justifica o injustificável, numa palavra, denuncia-se, dá uma marretada na sua credibilidade. Um Governo pode ser responsável por "oito anos de desinvestimentos, de falta de recursos humanos, de desvalorização dos profissionais...", mas o que lhe segue perde a razão quando o diz. Um Governo é empossado para realizar, para executar. Por alguma razão se lhe dá o nome de Executivo. Anunciar novas admissões ou a compra de centenas de viaturas para o INEM chegou fora de tempo, já não evita as consequências graves da greve anunciada e concretizada dos Técnicos de Emergência Médica. As culpas não se atiram, evitam-se. E vale pouco abrir investigações aos casos fatais por alegada demora no socorro, se servirem apenas para tapar o sol com a peneira e culpabilizar os subordinados como de outras vezes ou aligeirar a culpa dos dirigentes. Escribas não os há só na religião. Em todas as actividades florescem com mais ou menos intensidade e a política é um exemplo das mais infestadas pela tendência. Hipócrita, teatral, usada tantas vezes para promoção de interesses pessoais, precisa de mais serviço e humildade, em lugar de rituais de sobranceria e acusação.