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Entre amigos, à mesa de um café

Se fossemos averiguar, com cuidado e profundidade, a reacção das pessoas frente aos resultados das recentes eleições norte-americanas, que deram a vitória ao já nosso conhecido e ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, talvez ficássemos surpreendidos com a diversidade das atitudes. 


 

Algumas, de grande contentamento; outras que davam lugar a um semblante mais sério, porque não gostaram das notícias que leram nos “media”, ou melhor, porque preferiam a vitória da sua opositora, que seria, no caso de ter vencido, a primeira mulher a ser Presidente da grande nação americana.


 

Por fim, encontraríamos respostas do encolher dos ombros, porque se tratava de um assunto que não lhes interessava, ou, talvez, porque não soubessem fazer um juízo crítico bem fundamentado.


 

Talvez concluíssemos, sobretudo nos dois primeiros casos, que as pessoas com tendências para a esquerda preferiam a vitória da candidata democrata e as mais voltadas para a direita, se ufanassem com os votos alcançados por Trump, pois lhes deram a vitória.


 

Algum amigo, sentado à mesa de um café onde se encontrava com outros colegas seus, já findo o dia de trabalho, também comentava que os eleitores norte-americanos se esqueceram dos anos de chefia do candidato republicano na Casa Branca, pois, de acordo com o seu parecer, não tinham sido nada vantajosos para os cidadãos desse país. Outro, sem erguer a sua voz, mas discordando plenamente dessa conclusão, lembrava que, se há quatro anos, os eleitores impediram Trump de ser reeleito, agora mostraram o seu arrependimento, negando à sucessora de Biden a possibilidade de chefiar o seu país politicamente.


 

Enfim, levantou-se uma grande discussão, algumas vozes mostraram um certo alteamento de timbre, mas a calma voltou àquela mesa, quando um dos seus componentes observou serenamente: “Ou Trump ou a senhora derrotada, tanto me dá. Não sei o que dizer sobre o assunto. Mas creio bem que o que nós devemos desejar é que o candidato eleito desempenhe bem as suas funções...”


 

Calaram-se todos por um momento. A discussão parou. Entretanto, cada um começou a beber o que lhe faltava, quer o café que já ia arrefecendo, quer a cerveja que, não certamente pelo ardor das suas vozes, mas pelo tempo que demoraram a ser tragadas, já perdiam a frescura com que tinham sido apresentadas.


 

“Enfim, parece que não adianta discutir”, voltou a insistir o que falara em último lugar… “O importante é que se pense que o mundo não anda bem. Há pelo menos duas guerras, neste momento – falo da Ucrânia e de Israel –, que podem alargar-se por quaisquer razões e chegar a muitas partes do mundo, levando consigo a destruição, a ruína, a miséria e a morte de muita gente...”


 

Fez-se de novo silêncio. O autor desta última consideração, olhando a cara séria dos seus amigos, rematou, com um sorriso: “Hoje sou eu quem satisfaz a despesa e vamos depois todos para casa...” Despediram-se entre si, agradecendo ao pagador o seu gesto e, pouco depois, enquanto este se dirigia ao balcão para satisfazer o seu compromisso generoso, na mesa apenas ficaram as chávenas dos cafés já tomados e os copos vazios das cervejas...

P. Rui Rosas da Silva

P. Rui Rosas da Silva

12 novembro 2024